LÁPIS DE CARVÃO
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Na ponta do lápis, o carvão marca a folha amarelecida pelo tempo. Ainda somos crianças, a brincar junto da oliveira onde a videira se abrigou na vinha dos teus avós. O lápis não para e traça os números dos dias que vivemos juntos: almas juntas. Desenho-te o sorriso discreto e o dedo da tua mão no meu nariz. Oiço as gargalhadas puras, enquanto montávamos os póneis-cadeira à volta da mesa da sala da tua mãe.
Rabisco os dias da tua ausência na cidade grande, e eu perdido debaixo das azinheiras, com medo de te perder para sempre. A ponta do lápis partiu-se, nesses anos, antes de te encontrar adolescente, lá longe, na cidade grande, além do Tejo.
A navalha afiada das intempéries, serve para afiar o lápis; volto a desenhar sobre a folha do tempo. Esfuminho memórias, os desencontros, os reencontros e o amor. Na ponta do lápis, desenho-te novamente.
Nem sempre desenhei a vida com perfeição. A borracha plastificada dos anos, amorteceu as marcas e os vincos desnecessários. Mas em ti, encontrei a vida e esta vontade para desenhar, todos os dias, o sentimento que nos une: no ventre de menina: o retrato de mulher: desde o nascer até ao pôr-do-sol do amor eternamente enternecedor, sobre o papel madrugador dos anos vindouros - onde a vida nos pinta -, através da vontade comum do verdadeiro Pintor. 
         Pj Conde Paulino