O pensamento assassino da malandragem
A tragédia do voo da morte do jovem time Chapecoense comoveu o país inteiro. Sentimos a morte vã de pessoas lutadoras, vencedoras pela garra e pela honra de representar sua cidade e seus moradores em seu nome.
Não quero dedicar a crônica a esta tragédia por que não tenho gosto em escrever sobre algo tão triste, mas sobre algo que compartilhamos com o irresponsável piloto que viajou com o limite de combustível para o percurso.
Uns dos pensamentos mais assassinos do mundo pode ser denominado por personalismo. É a ideia de que você é uma pessoa tão especial, centro privilegiado do mundo, em que as regras e acidentes não ocorrem com você.
Você solda aro de liga leve ao invés de sugerir a compra de um novo. Você se acha capaz de driblar regras de segurança por que elas são pra pessoas menos especiais que você. Resultado, um cantor morre.
Você dirige um ônibus em velocidade normal debaixo de tempestade, para as pessoas comuns é arriscado e perigoso, mas para você que é ser humano excepcional não. Estudantes morrem e outros ficam feridos num acidente na BR.
Você sabe que o limite de velocidade é 110 km/h, que é arriscado ultrapassar este limite, mas você é especial, nada acontece por que é um abençoado pela natureza com dons especiais. Então enquanto os mortais andam no máximo 120 em uma reta, você põe 160 km/h deixando os lerdos para trás. Fez isto várias e várias vezes até que perdeu o controle do carro quando achou que não daria para ultrapassar a tempo um outro veículo
Você cruzou diversas vezes um semáforo fechado as 23 horas quando voltava da faculdade e nunca tinha acontecido nada. Não queria ficar feito otário esperando abrir o semáforo numa rua vazia. Incidentes e acasos não te afetam, até que em uma noite um outro veículo em alta velocidade atinge o seu e você morre.
Você foi numa praia e quis nadar além do limite que os outros banhistas não se atreviam a ultrapassar. Eles são patos, você é o cara. Encontra jeito pra tudo. Nadou, superou os limites, foi além do medrosos, nadou onde poucos haviam nadado e morreu por causa de uma câimbra e da distância dos outros banhistas.
Poderia contar mais e mais casos em que o personalismo matou tanto o crente em seus poderes acima das regras quanto pessoas inocentes que os acompanhavam ou que atravessaram seu caminho.
Armas, aviões, carros, mares, ruas não matariam tanto sem que este pensamento prepotente do personalismo não levasse a decisões e atitudes equivocadas.
Quantos ainda vão morrer por que alguém achou a manutenção de avião desnecessária, a qualidade de serviço ruim aceitável, o esquema que sempre vai dar certo contigo insuspeito?
É o tremendo poder de fazer besteira que a crença de estar acima das regras dá ao idiota metido a esperto.