Voo LMI2933 -
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Um avião transporta mais do que vidas, transporta sonhos, encontros, despedidas, saudades, ou o fim delas. É o pai indo reencontrar sua esposa e filhos, a mãe que trabalha pelo sustento da família, são pilotos que planejam estar em casa para a hora do jantar, aeromoças que levam na bagagem a realização de um sonho e de mais uma experiência a contar.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Quantos de nós não já tiveram ou viram histórias começarem dentro de um avião? A viagem tão esperada, a partida de futebol decisiva, o show para milhares de fãs, o encontro com o novo, a realização de algo desejado e esperado a tantos anos. Ou, apenas, o encontro com quem tanto desejamos.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Aviões são rápidos, assim como gostaríamos que fosse a realização dos nossos sonhos, assim como todos gostariam que tivesse acontecido neste voo que quase... quase chegou ao seu destino.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Caiu o sonho do menino que sonhava em ser estrela no futebol, o sonho daquele que seria pai pela primeira vez, caiu o sonho daquele que representava seus torcedores, caiu o sonho daqueles que lutaram tanto para conquistar suas horas de voo e se orgulhar em dizer: “mãe, eu ‘aprendi’ a voar!”.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Morreram encontros que não vão mais acontecer, morreu o Natal em família, morreram os sonhos, a companhia, o espaço preenchido e a presença querida. No lugar nasce o “buraco” da saudade que nunca será preenchido por quem nunca mais chegará.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. E o que fica é a dor compartilhada, pois todos nós somos torcedores. Se não por um time de futebol, somos pelo pouso de cada dia. Torcemos pela família que iremos encontrar ao chegar em casa, torcemos por quem amamos e por quem aprendemos a amar por suas habilidades, inclusive no futebol. Torcemos por mais pessoas que alcançam seus objetivos, inclusive o de um título. Torcemos para a chegada do fim, a hora do abraço, pois ninguém sonha sozinho.
“Quando um avião cai”, centenas de nós caímos juntos. Ontem e hoje o Chapecoense terá a maior torcida do mundo. Pois, quando sonhos, despencam do céu a solidariedade. Ela é a única camisa que qualquer de nós pode vestir. Essa é a única camisa que poderá confortar a dor de centenas de familiares que sentirá a partir de hoje a vida muito mais vazia. Ficam as orações em intenção de melhoras aos poucos sobreviventes, familiares e torcedores deste triste voo.
Felipe Sandrin, Editado Por Luh Lima