Sobre o Enem
O que o Enem nos mostra todo ano: que o sistema educacional nacional é fragmentário, feito de retalhos, não havendo uma base real unificada de conteúdos.
Primeiro diz respeito aos livros didáticos. Cada instituição adota aquele material que lhe é aprazível ou mesmo por simples influência da editora que faz parceria com a escola, sem pensar nos resultados e na qualidade informativa do material. Desse modo, cada escola trabalha o conteúdo a seu modo, não seguindo um padrão estipulado; como se a LDB e os Parâmetros Curriculares fossem meros ornamentos idealizados.
Segundo, a abordagem das questões parece ser de um nível para além do lógico ou interpretativo, beirando quase ao intuitivo. Alternativas similares, elaboradas numa estratégia que visa não o entendimento, mas a geração de dúvidas sobre o que está sendo afirmado. Exemplo disso são questões que fazem citações de pensadores, mas que nas sentenças a serem analisadas constam opções destoantes, que parecem não estarem ligadas ao conteúdo selecionado.
Terceiro, quem está de fato sendo avaliado? O estudante da escola pública, o da rede privada, aqueles que já possuem graduação? Parece não haver meio-termo no projeto, pois o nível dos questionamentos beira ao surreal, distante de qualquer capacidade discriminatória e analítica de estudantes secundários.
Por fim, o Enem é o processo que denota a elitização da educação, sabendo que quem estará apto a realizar uma prova digna são aqueles que estão acostumados com a pressão de pais exigentes, com a qualificação de professores excelentes, com uma escola coesa e sem empecilhos e com uma rotina sistemática de estudos. Por isso as cotas são a prova de que o sistema quer tornar bem evidente as disparidades nesse segmento; ao invés de intensificar o investimento e tornar a educação eficiente em algo equitativo, apenas quer manter as coisas como estão, favorecendo as elites e iludindo a classe dos mais simples com tais projetos que irão fazê-los aceitar essa condição de inferioridade, sem perceber que o ensino médio, sobretudo, nas escolas públicas, se perpetuará sem acréscimos ou novos horizontes, estagnado com a finalidade de ser apenas um espaço para a formação de profissionais medianos e subalternos dos que serão agraciados com os melhores cursos.