rua do triumpho 337

abre e fecha a porta.

não sai.

sai.

vai até o elevador.entra.acende um cigarro.

sai do elevador.

tragada profunda. tosse. close. bigode. dentes amarelados. sorriso de canto de boca.

entra no elevador. aperta todos o andares. tragada profunda. tosse. peido.

garota bonita entrar no elevador.

violenta bofetada. garota sem demonstrar qualquer espanto diz:

- te amo, porra!

- ama nada. você não sabe a diferença entre mim e eu, vá estudar!

calcinha azul, saia muito curta. violenta bofetada.

- detesto praia. detesto bolo de padaria.detesto.detesto

- você não sabe o que eu sei. adaptar-se as situações é mais importante que adaptar-se as circunstâncias.

toma o cigarro dele, apaga no próprio braço.

- não sinto nada. absolutamente nada.

- o romantismo é etapa superada. schiller é de um cretinismo abismal.

- eu não quero ser dependente de ninguém. o que eu mais detesto é dominar situações e circunstâncias. eu não sei mais o que é dizer adeus.

fumaça.barulho de helicópteros. insetos vagueiam nas correntes do elevador parado.

sexo entre o terceiro e o segundo andar.

paredão de tijolos que começa a ruir. está escrito na parede: "celacanto provoca maremoto"

de braços abertos, o corpo inteiro de hematomas, os cabelos em desalinho.ela vira os olhinhos.

ele de calças arriadas. calção de futebol faz ás vezes de cueca.

ela diz, entre soluços:

- o belo é a aparição de uma pluralidade finita em uma unidade determinada. o sublime, em contrapartida, é aparição do infinito.

elevador desliza. tudo nos trilhos.

elevador chega ao térreo

mamãe com carrinho de bebê

- saiam daqui, isso tudo é de uma decadência...

deixam o elevador livre.

o sol ofusca a vista. trilha de formigas é esmagado pelo pezinho da ninfa miúda, que ajeita o cabelo e quase sorri.

a rua está deserta. de uma instante fica lotada. sol ofusca tudo.