TODO  CUIDADO  É  POUCO

Ontem, um rapaz tocou a campainha, mas como estava na lavanderia pendurando roupas no varal, não levei mais do que uns três minutos para chegar até a porta. Ele tocou a campainha repetidamente e se foi. Cheguei a vê-lo pela janela, mas quando abri a porta ele já tinha evaporado. Mesmo assim, falei bem alto: Que coisa hein! Toca, toca, toca e some!?
E não é que o rapaz voltou!
Ele disse todo despojado, "Ei Tia tem roupa para doação? Sou voluntário, sabe. E tô fazendo a minha parte aqui".
Olhei bem pro rosto do tal voluntário que não apresentou nenhum crachá, nenhuma identificação. Não havia mais ninguém com ele. Tranquilamente, o distinto passaria pelo (ex) marido da Luana Piovani, Scooby, o surfista só que tinha pinta e linguajar de malandro. Respondi que infelizmente não tinha nada para doar naquele momento e perguntei  por que ele tinha tocado a campainha tantas vezes. Ele respondeu com uma pergunta, "Ficou com medo, foi?" Respondi que não. Ele riu debochadamente.  Falei  que achei muita sacanagem tocar a campainha inúmeras vezes e ir embora de boa, sendo que eu estava ocupada e me apressei para atendê-lo. O moço disse: "É, acho que a Tia ficou com medo, né. Mas tá vendo que não sou bandido, certo. Poderia ser policial também. Aí tu ia ter medo, né. Porque polícia não presta. Vale nada. Todo mundo tem mais medo da polícia do que de bandido".
Olhei bem para cara do Zé Mané  e disse: "Sabe de uma coisa rapaz? Hoje em dia, ninguém tem cara de nada. Ninguém sabe se o outro é do bem ou não. O bem não tem cara. O mal muito menos. Agora, tocar a campainha tantas vezes para me incomodar e se mandar ... ".
O rapaz não estava a fim de ouvir a minha ladainha. Me deu as costas e partiu.
Nenhuma vez me aproximei dele. Fiquei  imaginando quem atende essas pessoas. Tem gente que chega até o portão e ainda convida para entrar. É muita ingenuidade. As instituições que praticam a solidariedade nessa época do ano deveriam providenciar crachás identificando seus colaboradores e também pedir às radios, TVs e jornais para divulgarem suas campanhas.
Do jeito que as coisas estão, é sempre bom confiar com uma certa  dose de desconfiança.

 
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Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 14/11/2016
Reeditado em 30/10/2018
Código do texto: T5822947
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