Posso ajudar?

Estava arrumando meu notebook em meu escritório, quando me deparei com as palavras direcionadas à mim:

- No que posso lhe ajudar ?

Não era um estagiário, muito menos o meu chefe... Para minha surpresa, era meu filho. Eu estava trabalhando em casa, mas aquele ato fez com que eu me assustasse. Nunca imaginara aquela cena, pois nunca havia escutado aquela frase vinda de alguém tão próximo.

Eu mesmo nunca havia a dito, seja para minha mãe, que chegava tarde em casa após horas de trabalho em um hospital. Ou para minha avó, que vivia com sua mísera aposentadoria de dois salários mínimos. Sempre me perguntei o porquê delas sempre ficarem rabugentas após eu lhes oferecer ajuda. Até que hoje, percebi que eu não as oferecia ajuda, apenas repetia a mesma pergunta quase retórica todas as vezes que me sentia culpado por apenas vê-las trabalhar:

- Quer Ajuda?

Ora, é claro que elas queriam ajuda, estavam cansadas de seus afazeres, de suas contas para pagar e de seus sonhos desperdiçados em prol da família.

- Esses jovens de hoje em dia, não ajudam os mais velhos. Mal educados! Só querem saber de namorico,quero ver o dia em que eu sumir dessa casa, abandonar tudo, te deixar aí sozinho, aí você vai

aprender a dar valor.

Diziam elas. Por parte, vejo que estavam certas, eu era mesmo um mal educado, e realmente sinto falta das duas. Mas, se os jovens tendem a serem mais mal educados que os pais, por que meu filho me

disse tal frase?

Terminei meu trabalho, fui até o quarto dele, abri a porta, e lhe perguntei o porquê dele ter me oferecido ajuda outrora. Ele se levantou, me deu um abraço e disse que eram poucas as vezes que nos víamos, pois trabalho muito, que valorizava meu trabalho, e mesmo sendo um saco me ajudar, não me ofereceu mais que sua obrigação.

Escrevo esse texto para minha mãe, e minha avó, aonde quer que estejam. E esta mensagem serve também para você, não seja como eu quando jovem. Cada ato, até palavras que você direciona aos seus pais e mais velhos o tornam uma pessoa mais educada e fazem a diferença.

Me arrependo de não ter demonstrado interesse em ajudar minhas velhas, e nem se quer ter reconhecido o trabalho árduo para me criar. Mas, talvez, ainda dê tempo para você reconhecer o das suas.

Gabriel Vieira
Enviado por Gabriel Vieira em 23/10/2016
Código do texto: T5800322
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