SÓLIDA ESPERANÇA LÍQUIDA

SÓLIDA ESPERANÇA LÍQUIDA

Nossa vida é mesmo um aprendizado, mas para que aprendemos tanto? Se no final só nos restará o pó da terra e a esperança da concretização da nossa fé. Mesmo assim, procuramos não pensar no futuro... Ou procuramos? Na verdade, queremos o futuro em que possamos desejar mais futuro. Apesar da reflexão, não é isso que me motivou a escrever. O que me fez sentar-me diante do papel liso foi uma pedra de gelo. Isso mesmo! Uma mísera pedra de gelo, um sólido que almeja um futuro líquido, que por sua vez, almejará voar na atmosfera.

Admiro os professores, eles são os meus heróis; contudo, a natureza é a docente que Deus criou para ensinar os homens. Assim sendo, como eu estava dizendo, um gelo me fez desejar escrever. Ele não pensa, não fala, não gesticula, no entanto, quando olhei para ele em sua forma viril, mas fora do seu habitat natural, vi uma lágrima escorrendo de seu formato cúbico. Desejei colocá-lo de volta na geladeira, oras, por que não salvar uma... Vida?! Decidi deixá-lo onde estava, isto é, em cima de um prato de porcelana. Fiquei olhando seu trágico fim. Virou líquido.

Notei que ocupava todo espaço central da pequena louça, antes ele possuía formato próprio, rigidez, força; todavia, com o passar do tempo, ficou moldável. Se eu o colocasse num copo, certamente, ele assumiria sua forma cilíndrica. Desse modo, segurei o prato e o balancei, o líquido escorria para onde eu quisesse. Minha crueldade foi tanta que o deixei sobre a pia e, por ouvir o telefone tocar, saí dali, esquecendo-o, deixando-o aos ventos.

Havia se passado uma hora quando me lembrei do pratinho e do gelo derretido. Corri até a cozinha e quando olhei... Bem, já era tarde de mais. A louça estava seca. Enfim, aquele forte gelo virou vapor. Desse modo, como o meu “amiguinho” já não estava mais ali, simplesmente, lavei o prato e o guardei.

As horas se passaram, meu dia foi chegando ao fim. Decidi tomar um banho quente, afinal, a noite trouxera um ventinho gelado como companheira de trabalho. Liguei o chuveiro, esperei a água esquentar e... booom! - Ouvi um trovão, apagaram-se as luzes. - Fiquei com frio. Desliguei o chuveiro, tentei encontrar a toalha para me cobrir. Atentei-me para o ruído externo e escutei pequenas gotas caindo, começava a chover! Saí do banheiro e olhei pela janela, ao ver a chuva logo me lembrei daquela pedra de gelo. Comecei a sorrir, gargalhar! O gelo estava se vingando de mim. Virou vapor d’água e retornou do céu para zombar de mim. Foi nesse momento que aprendi uma lição.

Nossa vida é como o gelo, às vezes somos fortes, não desejamos mudar, temos uma aparência consistente; contudo, uma mudança no meio pode nos fazer frágeis, podemos nos tornar moldáveis. A própria vida dá um jeito de nos surpreender, fazendo com que fiquemos tão dependentes, que qualquer lado já nos serve. É como um líquido que evapora, esse é o modo como o destino atua. Antes, eramos gelo, que ficava no frio e só servia para servir, agora somos vapor. Podemos voar, estamos no céu, nas mais altas nuvens. Só que a vida, tem os seus altos e baixos. O meio pode nos fazer virar líquido de novo. E após beijar o mais belo algodão atmosférico, podemos cair de braços abertos no mais seco solo e, acredite, ele nos dirá “Seja bem-vindo. Eu preciso de você!”. A semente que ali já estava nos verá abraçando a terra e logo dirá à flor que nela dorme: “Acorde! Temos visita!”.

As mudanças que a vida nos proporciona, podem fazer a diferença a quem não proporciona vida.

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E Alyson Ribeiro
Enviado por E Alyson Ribeiro em 15/10/2016
Reeditado em 11/04/2017
Código do texto: T5792779
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