Talheres e ouvidos no RU!

Novamente, encontrava-me na fila ainda bem pequena com uma imensa vontade de almoçar.

Dinheiro na mão; carteirinha também. Almoço pronto no Restaurante Universitário (RU): uma delícia.

Logo peguei minha bandeja e o talhares. Nova fila.

Adicionei um pouco de alface, tomate, berinjela, batatinha refogada: alimentos lights (ou não?).

Lá no canto do refeitório avistei uma mesa desocupada: sentei-me!

Após alguns minutos, sentaram-se ao meu lado quatro jovens estudantes: um rapaz e três moças.

Logo percebi que eram do mesmo curso. Que tinham amigos comuns. Que partilhavam de sonhos semelhantes.

Com os meus ouvidos atentos, passei a acompanhar os seus discursos.

Uma das moças falou que se aquele fulano fosse sentar perto dela, logo se retiraria da mesa: estava chateada com as últimas palavras dele.

A outra moça disse que o fulano se mostrava mais esquisito naqueles últimos dias.

A terceira moça, em tom de voz bastante calma, dissera que não entendia o porquê de amiga fulana tal ainda se mostrar contente com aquele namorado grosseiro. Na verdade, ele era tão grosseiro que ninguém o aturava.

Calado, porém ouvido tudo, continuei meu almoço.

Mastiguei lentamente para degustar aquela conversa: ouvidos abertos!

Logo o jovem rapaz tirara do bolso seu esplêndido celular para compartilhar uma mensagem que aquele fulano tinha enviado a respeito da fulana de tal.

A mensagem dizia, segundo meus ouvidos capturaram, que ele era daquele jeito e que não mudaria. Se ela o quisesse, que fosse daquele maneira.

Rapidamente a mais nova das moças disse que a fulana de tal era muito boba. Disse ainda que aquele rapaz não a merecia.

Entendi que aquele fulano era tão chato que ninguém gostava dele.

Pensei até em arriscar uma palavra. Mas contentei-me em apenas ouvi-los.

Continuei degustando minha refeição. Os colegas de mesa também.

O silêncio pairou por uns instantes, certamente porque a comida estava deliciosa!

Em tom um pouco baixo, tal qual confessando o que não era permitido, ouvi de uma das moças que estava se sentido chateada com a fulana de tal. Ela também não era de confiança.

O amigo dissera o mesmo. Sempre desconfiava de que a fulana de tal não guardava segredo.

No último final de semana seu amigo foi importuná-lo para saber o porquê daquela história. A história de que eles tinham dito algo ruim, segundo a mensagem transmitida pela fulana de tal no grupo de diálogo no WhatsApp.

Em silêncio, percebi que os amigos são, em boa parte das ocasiões, inimigos.

Eu, por exemplo, se tivesse saído em defesa do fulano e da fulana de tal seria um alguém entrando num terreno minado.

Acabei a refeição. Levantei-me!

Aos poucos afastei-me dos jovens. Depositei meus talhares no recipiente específico e, com os ouvidos já ausentes das vozes daqueles jovens, segui meu caminho na expectativa de um novo retorno para ouvir uma nova história de amigos.

Rubens Martins
Enviado por Rubens Martins em 27/09/2016
Reeditado em 14/04/2024
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