Viagem ao passado

O mês de julho me fez lembrar das férias, onde todos os anos, eu, papai e mamãe, fazíamos a tradicional viagem Rio – Tiradentes (MG). Mamãe, mineira da histórica cidade, necessitava pelo menos uma vez ao ano rever seus familiares.

Os preparativos para esta viagem eram sempre cuidadosamente pensados por meus pais. Papai levava o nosso fusquinha branco (de placa BB-6052, ano 1961, 1.200 cilindradas, 6 volts), para a devida revisão na oficina do saudoso mecânico e amigo Sr. Albino, ficava ali no Engenho Novo mesmo, mais próximo ao Méier. E papai, costumava ir na oficina todos os sábados, xeretar um pouquinho, e acabava também aprendendo muitas coisinhas de mecânica, e eu também, muitas vezes o acompanhei, desculpa da mamãe para não deixá-lo ir sozinho; e acabei aprendendo que quando a bobina esquentava o carro não pegava, que carburador entupia, e quando a bateria arriava, que agonia!

Mamãe arrumava para a viagem tanta mala, bolsa, sacola, que íamos iguais múmias, apertadas em sarcófagos, pois nem dava para mexer... o fusquinha é tão espaçoso...

Chegado o grande dia, eu era só euforia, afinal de contas, viajar naquele carro para mim, era um estouro, nem me incomoda lembrar que passaríamos as próximas sete horas, ali dentro. Vovô e vovó (nós morávamos com meus avós paternos) ficavam um pouco tristes, mas sabiam que uma semana passa rápido. E lá íamos nós três, aliás, nós quatro, pois meu pai dizia que aquele carro era o filho que ele não tinha, e meu irmão de coração.

Papai cortava caminhos na saída do Rio, afinal de tantas vezes indo e vindo todos os anos, o carro parecia ir sozinho. Quando passava o “Porcão”, papai ficava mais feliz. Começava então a famosa e linda Serra de Petrópolis, onde as curvas são fechadas, e o ouvido sempre ficava entupido, devido à altitude, os dois túneis – como eu gostava desses túneis, com aquela forte luz amarela. Íamos pela antiga estrada União Indústria, ainda não existia a BR 040. Fazíamos várias paradas, porém a melhor de todas era a do almoço, afinal, ninguém é de ferro, que geralmente era em Juiz de Fora.

Nós continuávamos o caminho, eu, uma tagarela, a ler todas as placas e avisos, achava que papai não precisava perder tempo em ler, tinha mesmo era que dirigir, eu mais parecia uma navegadora de rally, sabia o significado de todas as placas.

E víamos as montanhas, que são uma de minhas paixões; por tantas cidades percorrendo, e o carrinho firme e forte, ele valia ouro, pois nunca nos deixou na mão, até chegarmos ao nosso destino Tiradentes. Na rua da Matriz de Santo Antônio, vovô, vovó, minhas tias nos recebiam com uma alegria especial.

Da família e do carro, tenho muitas histórias, muitas mudanças, doces lembranças. Há quem diga que passado é para se esquecer, porém discordo, faz bem ao coração trazer à tona boas lembranças de momentos vividos outrora. Despertam uma sensação gostosa de saudade, de tempos que jamais devem ser esquecidos.

Esta crônica, segue o tema “... pena que o tempo não volta ...” proposto no Fórum do “Recanto das Letras” – tópico: Crônicas

23/07/2007