Digressão sobre a morte
É bem provável que todos já disseram alguma vez na vida, que: “Um dia todos irão morrer!”, mas até que ponto nós acreditamos nisso, ou melhor, até que ponto cremos que faremos parte desse “nós”? Hoje eu parei para pensar na morte, em seu caráter definitivo, e é impossível compreendê-la pelo simples fato de que todas as coisas que passaram em minha vida, cujas quais tive contato, eram efêmeras, como eu também sou. Tive meu momento de lucidez com a morte há poucas horas. Estou em choque! Irei de fato morrer? Sim. Mas esse “sim” é também dúbio porque é um “sim” que está muito próximo de ser um “não”, ou melhor: lá no fundo o não representa muito, ele significa esperança. Essa é a nossa sina. Como mortais, desejamos a imortalidade. Será que os deuses sentem inveja de nós? Será que eles também desejam aquilo que não podem ter? Se sim, ao contrário de nós eles desejam a morte.
Sento em frente ao espelho, observo algumas cicatrizes espalhadas pelo corpo; as rugas que pouco a pouco começam a aparecer em volto dos olhos e da boca; alguns fios brancos que nascem e, em contrapartida, levam um punhado de minha mocidade. – Por quê? Para que isso? Pergunto para mim mesma. Essas marcas são a prova de que vivo, e de que vivi. São pequenas partículas de vida que pouco a pouco a morte vai me tirando, até tirar de vez, por completo. – E depois? Não há depois. O depois tem gosto de terra, tem cheiro de túmulo e de cadáver. Toda essa digressão foi para dizer que a vida é uma grande piada sem graça. – Mas por que sem graça? Porque no fim ninguém irá rir.