EMOÇÕES EM ITACOATIARA! (VELHAS LEMBRANÇAS)

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Manoel Vieira da Costa (im memoriam), dono da Soltur e Roberval Vieira.

Como sempre me dizia o amigo e companheiro de jornadas pelo mundo afora, Dr. Mauri de Macedo Bringel – “a vergonha de quem pede está na resposta de quem nega” – telefonei para o companheiro e amigo Flávio Willer Candido, sócio da empresa Aruanã Transportes, (hoje também advogado) e lhe pedi uma passagem para chegar ao município de Itacoatiara, antes dos amigos que iriam depois, de carro. Itacoatiara, ou “pedra pintada”, fica a 267 quilômetros de estrada cheia de buracos da capital do Estado. Perguntou-me: “E para você, mesmo a passagem?” ”É para mim!”. “Lógico meu querido. Procure a Rodoviária e se apresente ao atendente. Seu nome já estará lá”. Fiz como o amigo de jornadas me orientou! Estava dentro do segundo ônibus da Aruanã do segundo horário (o primeiro perdi. Na Rodoviária de Manaus existem duas placas: uma de embarque de um lado e outra de desembarque do outro. Dentro, só existem 5 plataformas sem qualquer identificação e o ônibus estaciona onde não estiver ocupado o espaço) . O primeiro, perdi perdido por falta de orientações claras na péssima Estação Rodoviária de Manaus, Clovis Beviláqua, inaugurada pelo prefeito José Fernandes de Oliveira, há muitos anos.

Estava retornando ao Município no qualdezoito anos antes confirmei a gravidez de minha esposa Yara Queiroz. Foi engraçado como fiquei sabendo. Viajaria de táxi para a casa do advogado Raimundo Silva. Ao me despedi, falou-me: “estou desejando tomar uma cuba livre. Na viagem, você compra uma garrafa de Rom Montila e eu, quando for, levarei a Coca-Cola. Ao chegar em Itacoatiara para encontra-lo, farei a Cuba Livre e tomarei”. “Logico!”. Antes da gravidez confirmada com Cuba Livre de nosso primeiro e único filho, me dera vários notícias: “Acho que estou grávida”. “Acho que perdi nosso filho”. Na confortável residência estilo japonês na qual sempre me hospedava no município, erguida majestosamente com vista ao passeio “Jornalista Aguinelo Oliveira” tive a certeza: tomou uma dose de cuba libre e desmaiou, com pressão baixa e suando muito frio! Estava confirmada! Devido a isso e a diversas outras lembranças acumuladas, a volta ao município representaria muito para mim: reviveria um passado e reencontraria amigos, o que pensei que não seria mais ser possível porque o tempo voa e não corre como eu desejava que fosse e assim era na adolescência: não o via e nem o compreendia a complexidade do tempo e quase não o percebia passando por mim! Já tinha conhecido o município para onde meu pai Paulo Costa sempre viajava

Na primeira vez aos 16 anos, no dia 14 de novembro de 1976, na fatídica “viagem da agonia”, dos 39 passageiros que embarcaram no ônibus, só quatro sobreviveram. O “Frescão” da Soltur, terminou sua viagem no leito do Rio Urubu, como descreveu a testemunha ocular da trágica história, o jornalista e escritor Roberval Vieira em sua obra “Memórias de um Repórter”. Por pura curiosidade de um futuro repórter que viria a me tornar anos depois queria ser testemunha da história também. O companheiro do jornalista Roberval, tinha colocado o município na mídia da capital a só desejava testemunhar como se daria a sucessão política do fazendeiro Aurélio Vieira dos Santos aos candidatos mais expressivos na época, o empresário Chible Abrahim e o médico Milton Amed. A Arena e MDB, Itacoatiara não saíam da mídia na capital, principalmente no jornal A NOTÍCIA, onde Roberval Vieira também trabalhou..

No sábado à noite, lançaria na Academia Itacoatiarense de Letras, presidida por Ester Araújo. a obra científica na área do serviço social, “O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS EM MANAUS (Ed. UFAM/2013)”, A presidente foi buscar-me na Estação Rodoviária do Município. Aliás muito limpa e bem sinalizada para um município de pouco mais de 100 mil habitantes. Depois do lançamento, o amigo Jeovan Barbosa, matou minha saudade e fui rever a comunidade do Varre-Vento, onde morei em minha adolescência até os 8 anos . Iria reencontrá-la 48 anos depois. Pertencem-lhe as melhores lembranças de minha adolescência. Nasci em Manaus, mas a família de agricultores foi morar na comunidade que me viu menino. Na viagem de retorno às lembranças, também estava acompanhado do Dr. Alberto Valério, leitor das crônicas que publico no facebook..

Naquela primeira e fatídica viagem, embarquei meia noite na Rua da Instalação, em frente à Feira das Frutas. Talvez fosse a inauguração e primeira viagem do ônibus com ar condicionado, um dos primeiros a circular em Manaus. Devido ao excesso de propaganda em torno da campanha política partiu meia noite, com lotação completa. Agora, estava viajando em um confortável ônibus com ar condicionado da empresa Aruanã, na agradável companhia de Valderez da Cunha, que insistia em se dizer “cobradora” em vez de “rodo moça”, que é o correto. Depois que perdi o ônibus do horário das 8 da manhã, por falta de informações na precária rodoviária de Manaus. Voltei ao clichê da Aruanã, comuniquei o que ocorrera e um rapaz muito cortes e educado, me atendeu, pediu desculpas pelo transtorno e remarcou para depois do 10 horas o próximo embarque, se prontificando a guardar os livros que portava dentro da sala da empresa e disse que me conduziria até o embarque. Não foi preciso a presteza do agente de passagem Daniel!

Dessa vez, além de lançar um livro científico na Academia e participar do lançamento da Revista ITA NEWS no Cinema DIB, estaria retornando também para rever amigos do passado, como o advogado e ex-juiz do trabalho e agora vereador Raimundo Silva, o fazendeiro João do Joca, que conheci ha 40 anos, ainda seu porte atlético e firme. Ele ofereceu em sua fazenda um churrasco a todos que compareceram à inauguração da Junta no Município de Itacoatiara. O “desconhecido advogado ao Tribunal do Júri”, como foi descrito por mim em A NOTÍCIA, Raimundo Silva, agora vereador em sua terra, prestou homenagens à memória de pessoas ilustres como ao deputado estadual João Valério de Oliveira, o jornalista Aguinelo Oliveira e, também, resgatou a memória da professora Raimunda Vasconcelos Dias, a primeira vereadora do Brasil, da tradicional “Vasconcelos Dias” da “Velha Cerpa”. Raimundo Silva foi presidente da Câmara Municipal em seu município por dois mandatos, com todas as contas aprovadas!

Estava dormindo dopado de remédios quando cruzei a ponte agora existente sobre o Rio Urubu, Mamoud Amed, onde terminara a “viagem da agonia” de 2006. Na comunidade de Lindóia, paramos para o almoço e Valderez apanhou-me à mesa.. Durante vários momentos da viagem, a leitora itacoatiarense Ivone Farage, que foi me conhecer durante o lançamento da Revista Ita News, no Cine Teatro DIB, que fechara por falta de público, foi se comunicando comigo por mensagens de whatsapp, perguntando se estava medicado e se estava bem...Nem sempre essa comunicação era possível, mas foi me acompanhando e foi quem me alertara que havia perdido o ônibus das 8 horas da manhã. Cumpridas minhas obrigações voltei ao Varre-Vento 48 anos depois.

Confirmei uma certeza: a comunidade que me viu menino, ainda não me deixou e permanece gravada em mim como se fosse uma tatuagem. Não morrerá jamais em minhas lembranças.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 31/08/2016
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