Quase um clichê
Foi em um sebo que eu o conheci. Ele me indicou um livro da Agatha, acompanhado de um sorriso enorme, aquele que a gente dá quando se sente empolgado demais com algo. Ele estava com seus vinte e poucos anos e trabalhava num sebo, eu amava livros e trabalhava lá perto. Comecei passando ali uma vez por semana, depois duas vezes, três, e chegou um momento em que eu passava todos os dias depois do meu expediente. Não pra comprar livros, mas pra jogar conversa fora. Falávamos basicamente de livros, filmes e séries. Depois de cinco semanas, descobri que ele escrevia músicas e tocava violão, e um dia ele me mandou um áudio com uma delas, ele não cantava muito bem e sua voz era bem baixa – diferente de mim, que sempre falei alto demais – mas a música era muito boa! Essa primeira que ouvi falava sobre o quão pequenos somos diante de um universo tão grande, e como, na vida, as coisas fluíam da forma que deveria ser. E assim foi, fluiu. Nada forçado, nada procurado. Só fluiu. E quando menos esperava, lá estávamos nós, longe daquele sebo, tentando contar as estrelas, ou esperando a lua surgir no céu.
Trocávamos músicas legais, compartilhávamos nossos sonhos – que por um “acaso” eram bem parecidos – ficávamos conversando por horas e ele sempre me acordava com um bom dia.
Ele tinha uma coleção de discos de vinil, eu colecionava conchinhas do mar e pedrinhas que eu encontrava por aí. Planejávamos viagens pelo mundo, e prometemos experimentar uma comida diferente em cada continente desse planeta.
Senti-me feito adolescente quando se apaixona, aquele sentimento forte, que eu não sentia há muito tempo, chegou rasgando e tirando tudo do lugar. Nunca pensei que tal coisa aconteceria comigo. Isso de uma pessoa apaixonada por livros encontrar o amor em um sebo, parece coisa de filme, coisa de livro, menos coisa pra mim. Só que aconteceu, e como disse, só fluiu.
Hoje, faz cinco anos que nos conhecemos, não somos um casal perfeito, mas já conseguimos montar nossa tão sonhada biblioteca, o que já é uma conquista e tanto pra nós. Tivemos alguns desentendimentos até aprender que com paciência tudo se resolve, descobrimos que sonho construído em conjunto pode ser ainda melhor, e que a vida sempre irá nos surpreender.
Agora, estou aqui, tomando meu chocolate quente e comendo aquelas rosquinhas de coco, que a gente tanto gosta, enquanto escrevo que, na vida, o que tem que acontecer acontece, não importa quantas voltas o mundo dê até que as coisas se concretizem.