Do biquíni ao burquíni
1. No século passado, numa de minhas idas à Europa, passei três dias em Nice. Meu hotel ficava a um quarteirão da Promenade des Anglais, uma avenida a beira-mar, cartão-postal da Cotê D´Azur.
2. Em algum lugar da Promenade, parei. E, boquiaberto, vi mulheres de biquínis e com os seios à mostra: estava, pela primeira vez, diante do topless. A surpresa foi tão grande, que, por pouco, não perdi a rua que me levava ao hotel.
3. Apesar das mancebas francesas em nada se assemelharem, em beleza e sensualidade, às morenas do Brasil, porque semidesnudas, chamaram a atenção deste deslumbrado cronista perambulando pelas praias do Mediterrâneo.
4. Nas praias do Brasil, nas do nordeste principalmente, naqueles idos, as mulheres ainda não tinham decidido mostrar seus seios ao sol tropical, aderindo ao topless. O biquíni já era usado no sul por belas mulheres; Leila Diniz e Helô Pinheiro , por exemplo.
5. Muito bem. A imprensa mundial vem dando destaque à polêmica decisão do governo francês de proibir o uso do burquíni pelas mulheres muçulmanas no banho de mar.
Alegação: possibilidade do burquíni esconder um alucinado terrorista.
6. O que é o burquíni. Um traje de banho que, diferente do biquíni, que mostra tudo, esconde o corpo da mulher, deixando de fora o rosto da banhista muçulmana, facilitando, portanto, seu imediato reconhecimento.
7. As opiniões se dividem. Há os que defendem a posição do governo francês e os que acham a proibição ridícula e discriminatória.
8. Criadora do burquíni, a australiana de origem libanesa Aheda Zanotti, em entrevista à Folha de São Paulo, condenou a proibição. Disse, entre outras coisas, que "esse veto é uma maneira de segregar". E mais: "Querem julgar todo um grupo devido a um punhado de criminosos." E foi incisiva: "O Estado Islâmico não representa nenhum muçulmano que conheço".
9. Estou com Aheda Zanotti. Que o governo da França trate de respeitar as convicções religiosas das muçulmanas e combata o terrorismo, atribuído ao Estado Islâmico, com inteligência e com o poder de fogo que os franceses têm de sobra.
10. Sempre que o biquíni volta às manchetes dos jornais, um quiprocó sobre ele se instala.
Lembro-me que, nos idos de 1960, o Presidente Jânio Quadros - dizem que movido a fartas e repetidas doses de Buchanas e Royal Salute - baixou um decreto proibindo o uso do biquíni em todo o território nacional, sob o argumento de que o biquíni era "um traje indecente".
11. A exuberância física da mulher brasileira se impôs e revogou o decreto janista. Esse decreto foi lançado na lata de lixo da história. O biquíni voltou às nossas praias; e nas praias deve permanecer per ominia saecula saeculorum...
1. No século passado, numa de minhas idas à Europa, passei três dias em Nice. Meu hotel ficava a um quarteirão da Promenade des Anglais, uma avenida a beira-mar, cartão-postal da Cotê D´Azur.
2. Em algum lugar da Promenade, parei. E, boquiaberto, vi mulheres de biquínis e com os seios à mostra: estava, pela primeira vez, diante do topless. A surpresa foi tão grande, que, por pouco, não perdi a rua que me levava ao hotel.
3. Apesar das mancebas francesas em nada se assemelharem, em beleza e sensualidade, às morenas do Brasil, porque semidesnudas, chamaram a atenção deste deslumbrado cronista perambulando pelas praias do Mediterrâneo.
4. Nas praias do Brasil, nas do nordeste principalmente, naqueles idos, as mulheres ainda não tinham decidido mostrar seus seios ao sol tropical, aderindo ao topless. O biquíni já era usado no sul por belas mulheres; Leila Diniz e Helô Pinheiro , por exemplo.
5. Muito bem. A imprensa mundial vem dando destaque à polêmica decisão do governo francês de proibir o uso do burquíni pelas mulheres muçulmanas no banho de mar.
Alegação: possibilidade do burquíni esconder um alucinado terrorista.
6. O que é o burquíni. Um traje de banho que, diferente do biquíni, que mostra tudo, esconde o corpo da mulher, deixando de fora o rosto da banhista muçulmana, facilitando, portanto, seu imediato reconhecimento.
7. As opiniões se dividem. Há os que defendem a posição do governo francês e os que acham a proibição ridícula e discriminatória.
8. Criadora do burquíni, a australiana de origem libanesa Aheda Zanotti, em entrevista à Folha de São Paulo, condenou a proibição. Disse, entre outras coisas, que "esse veto é uma maneira de segregar". E mais: "Querem julgar todo um grupo devido a um punhado de criminosos." E foi incisiva: "O Estado Islâmico não representa nenhum muçulmano que conheço".
9. Estou com Aheda Zanotti. Que o governo da França trate de respeitar as convicções religiosas das muçulmanas e combata o terrorismo, atribuído ao Estado Islâmico, com inteligência e com o poder de fogo que os franceses têm de sobra.
10. Sempre que o biquíni volta às manchetes dos jornais, um quiprocó sobre ele se instala.
Lembro-me que, nos idos de 1960, o Presidente Jânio Quadros - dizem que movido a fartas e repetidas doses de Buchanas e Royal Salute - baixou um decreto proibindo o uso do biquíni em todo o território nacional, sob o argumento de que o biquíni era "um traje indecente".
11. A exuberância física da mulher brasileira se impôs e revogou o decreto janista. Esse decreto foi lançado na lata de lixo da história. O biquíni voltou às nossas praias; e nas praias deve permanecer per ominia saecula saeculorum...