Cadê a faixa do povo?

          1. A revista Veja, edição de 17 de agosto de 2016, publicou uma longa matéria fazendo esta triste pergunta: Cadê a faixa presidencial? Referindo-se à faixa auriverde, tiracolar, símbolo do poder, usada pelos presidentes da República.
          2. O que aconteceu. Com esta história de sai, temporariamente, a presidente titular e o vice assume, o Tribunal de Contas da União - TCU confirmou, segundo a Veja, o sumiço da faixa presidencial e de mais 4 500 itens do patrimônio da presidência da República.
          3. Antes de externar qualquer opinião sobre o anunciado extravio da faixa presidencial, procurei saber como e quando essa tão cobiçada faixa passou a ser o símbolo do poder da República brasileira.
          4. Recorri, então, ao Google que, de acordo com o escritor Ruy Castro, substituiu o Almanaque Capivarol, sábia revistinha que, na minha mocidade, muitas vezes consultei, querendo saber das coisas, fosse como fosse, custasse o que custasse. Nunca fiquei sem resposta.
          5. Esse almanaque, recordando um pouco, foi lançado em 1919 e circulou, creio eu, até metade do século 20.  Era distribuído gratuitamente pelas farmácias. Fazia propaganda de muitos remédios, mas era do tônico Capivarol que ele cuidava prioritariamente.
          6. Tinha mais. Além da propaganda de remédios, no almanaque a gente encontrava uma infinidade de informações úteis, curiosidades mis, e muita coisa que o povão fazia e dizia.           Suas capas, lembro-me bem, eram belíssimas.
          7. Muito bem. Me disse o Google, que, no Brasil, a faixa presidencial foi instituída pelo Decreto 2.299, de 21 de dezembro de 1910, do presidente Hermes da Fonseca. Detalhes: oficialmente ela tem 12 centímetros de largura por 1,67 metro de comprimento.
          E o mais importante: virou um símbolo nacional. Por isso, seu sumiço humilha e envergonha o cidadão brasileiro.
          8. É indiscutível que a culpada pelo desaparecimento da faixa presidencial é a senhora presidente Dilma. A faixa, todo mundo sabe disso, permanece sob sua guarda, até que, por isso ou por aquilo, seu sucessor assuma a Presidência da República.
          Vale lembrar, que a faixa presidencial não pertence ao presidente: a faixa é do povo brasileiro.
          9. Contam os livros, que, no Palácio do Catete, quando ali ainda moravam os presidentes, trabalhava um modesto e discreto senhor chamado Albino.
          Ele aparece com destaque nas páginas do livro Histórias de presidentes - A República no Catete 1897-1960, da escritora cearense Isabel Lustosa. Nesse livro me inspirei para escrever esta página.
          10. Isabel Lustosa chama a atenção para os elogios feitos ao Albino, que "cuidava das alfaias" do palácio e "dirigia os serventes na limpeza e no enceramento dos salões"; conhecendo "os escaninhos e guardados do Palácio das Águias" por duas importantes senhoras que conheciam a intimidade do Catete. São elas Laurita Pessoa, filha do presidente Epitácio Pessoa e Alzira Vargas, filha dileta do presidente Getúlio.
          11. Albino, segundo a escritora Isabel Lustosa, ficou com seu nome ligado à faixa presidencial. Conta a historiadora alencarina,que ele recebeu do presidente Washington Luís, deposto pela Revolução de 1930, a incumbência de guardar a faixa presidencial; e com a recomendação de só entregá-la "a quem de direito".
          12. Albino, escreve Isabel Lustosa, "consciente de sua responsabilidade e temeroso de que, em meio à confusão reinante, naqueles primeiros dias da revolução desaparecesse o precioso símbolo, guardou no lugar mais seguro: nele próprio".
          13. E a historiadora Isabel Lustosa: "Debaixo de seu dólmã de contínuo, sobre seus ombros franzinos, a faixa verde e amarela com seu escudo de ouro e os vinte brilhantes representando os estados do Brasil, estava bem guardada. Não a retirava nem à noite e, assim, dormiu e acordou presidente da República durante vários dias..."
          14. E prossegue a escritora cearense na sua narrativa surpreendente.
          Getúlio sofre um acidente de automóvel a caminho de Petrópolis. "Comovido com o sofrimento de Vargas, Albino decidiu entregar-lhe a faixa, dizendo:
"Seu Presidente, o senhor nunca soube, naturalmente esqueceu, mas para o senhor ser presidente de verdade, está faltando uma coisa: a faixa presidencial que está comigo guardada e escondida todos esses anos."

          15. E concluiu Albino: " O dr. Washington me deu para que eu só a desse a presidente eleito,           Agora, porém, mesmo sem o senhor ter sido eleito, quero entregar-lhe a faixa".  Que exemplo dignificante deu o modesto Albino!
          16. Termino minha crônica sem saber se a faixa foi ou não encontrada. Ela, circulam rumores, teria sido localizada em algum lugar do vasto planalto central. Faltando, porém, atestar-lhe a autenticidade.
          17. Oh! faltam servidores como o Albino nos corredores dos Palácios do Planalto e da Alvorada!
          Confirmado o sumiço da faixa presidencial, deve o fato ser imediatamente registrado na Delegacia de Furtos e Roubo mais próxima dos palacetes de Brasilia. É caso de polícia.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 17/08/2016
Reeditado em 23/08/2016
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