Orestes Barbosa,
                       o menestrel




          1. Voltei às  minhas estantes. Desta vez para um breve passeio pela obra de Orestes Barbosa, no mês do cinquentenário de sua morte.
          
2. Orestes Barbosa Dias foi compositor, escritor, jornalista e poeta dos bons. Nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de maio de 1893 e, na mesma cidade, morreu no dia 15 de agosto de 1966. Portanto, há 50 anos.
          
3. Os amantes das serestas têm obrigação de conhecer a vida e a obra de Orestes Barbosa; e mais do que isso, reverenciar, com gratidão e respeito, a sua memória.
          
4. Para ajudá-los nessa nobre tarefa, indico o livro Orestes Barbosa - repórter, cronista e poeta, do músico e pesquisador Carlos Didier. É a mais nova e mais completa biografia do compositor de Suburbana. 
          
5. Apenas um lembrete. Quando falo em serestas, refiro-me às de outrora. Naqueles tempos, idos de 1950, faziam-nas o seresteiro e seu violão, tendo a lua como testemunha...
          
6. E sempre para a mulher amada que adormecia embalada pelo som macio das belas canções que lhe chegavam ao travesseiro, através das frestas de suas janelas sempre atentas ao canto seresteiro...
          
7. Sem dúvida, a serenata era o melhor e mais carinhoso presente que um jovem apaixonado podia oferecer à mulher que jurava, entre beijos, ser a dona do seu coração.
          
8. Mas voltemos ao Orestes que é o que, no momento, interessa. São muitas, e cada uma mais bonita do que a outra, as valsas-canções que saíram desse extraordinário vate. Cito algumas: Suburbana, A mulher que ficou na taça, Companheiro, Torturante ironia, O nome dela eu não digo e Arranha Céu.
          
9. E olhe que ele viveu num tempo de iluminados compositores, destacando-se Noel Rosa, Pixinguinha, Cândido das Neves, Custódio Mesquita, David Nasser, Mario Lago e o baiano Assis Valente.
          
10.  Sinta, meu caro leitor, em toda a sua intensidade e grandeza, a sensibilidade poética do compositor Orestes Barbosa, ouvindo, por exemplo, Arranha Céu. Vejam só este versinho: "Cansei de olhar os reclames/ E disse ao peito: não ames,/ Que esta mulher não te quer,/ Descansa. Fecha a vidraça./ Esquece aquela desgraça/ Esquece aquela mulher."
          
11. Mas não há como falar das composições do Orestes sem tecer algum comentário sobre Chão de Estrelas , sua obra-prima; ainda que repetindo o que já se disse ou já se escreveu, à farta, sobre essa canção. 
          É que, segundo o poeta Manuel Bandeira, nela Orestes escreveu o verso mais bonito da língua portuguesa: "Tu pisavas nos astros, distraída".
          
12. Há outro episódio pouco conhecido sobre a beleza desse verso orestino. Teria sido contado por Sérgio Porto, o saudoso cronista Stanislaw Ponte Preta.  
          
13. Conta o autor de Tia Zulmira e Eu que "Roque Laurenza, poeta panamenho, ouvindo-o cantar os versos de Chão de Estrelas exclamou: Por Dios! Repita para que yo veia se és verdade lo que he oido!" E Sérgio Porto: "Tu pisavas nos astros, distraída..."  E o panamenho "ali mesmo jurou que acabara de ouvir o verso mais lindo!"
          
14. Homenageia-se um compositor, lembrando suas canções. E se elas são lindas como as do Orestes Barbosa, lembrando-as, pouco se terá a dizer.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/08/2016
Reeditado em 27/09/2019
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