A Procura da Indiferença

Sofrer é uma porcaria.

Se você sente, você sofre. Não tem como escapar, e independentemente da situação, é inevitável. Às vezes você só queria estar alocado num lugar isolado, envolto no vácuo do espaço ouvindo apenas o silêncio das estrelas, ou em uma praia distante, assobiando no ritmo das ondas do mar... mas não dá. Você cai num poço e fica chafurdando simplesmente porque não consegue fazer nenhuma outra coisa a não ser chafurdar.

A moeda tem dois lados, e por mais que você saiba, tenha certeza, de que o outro lado da dela continua brilhando como sempre brilhou, sua cabeça estranha não te permite se sentir bem. Por mais que a o soco tenha lhe acertado o queixo, e o outro lutador esteja em pé, sorrindo da sua queda, você não consegue se levantar porque você sente.

O mundo se agiganta, as pessoas parecem sempre estar rindo pelas costas e apontando-lhe o dedo pela sua falta de capacidade. Seu cérebro concebe as ideias mais mirabolantes, seus sentimentos se derramam por todos os poros e um elefante de ferro senta-se em seu peito e parece que nunca vai sair. Os outros sempre vão estar ali, os amigos, mas nem isso vai parecer suficiente.

A causa de tudo não merece um milissegundo de pensamento dedicado, mas logo se chega à conclusão de que o sentimento não é pelo outro, e sim por si mesmo. Pela incrível capacidade de sempre ser o que está errado, o que paga o pato, o que sofre depois da vida dedicada. Como se o seu problema fosse o maior do mundo, mesmo sabendo que ele não é uma fagulha no fogo que lambe a floresta.

Entretanto, dói pra caralho.

Porque, querendo ou não, você sente.

E então,

chega uma hora que passa...

Nesse processo de sentir, depois de tanto apanhar, chega a hora de sentir indiferença. De um dia pro outro, de um minuto pro outro, de um instante pro outro... a dor se torna indiferença, e quando isso acontece, você sabe que o que está ganhando é muito mais do que poderia esperar ganhar. Por mais que você se sinta pequeno, frágil, perdido, nada acontece por acaso. O destino tem propósitos obscuros, mas nunca, nada, é vão.

Os famigerados motivos podem não se manifestar de imediato, mas uma hora com certeza o farão. E quando o fazem, chega a percepção de que nada daquilo foi ao acaso, e de que mesmo as piores coisas servem a um propósito maior. Por mais que não acreditemos.

“Sempre uma coisa defronte da outra”.