Genealogia

Foi por causa de uma mulher, que Pedro, o pernambucano, ainda moço, envolveu-se numa briga. Jurado pelo seu desafeto, fugiu para o Amazonas. Na travessia das fazendas de gado do Piauí, avistou Raimunda, filha de vaqueiro, que lhe laçou pelo peito e o amarrou em seus braços. Desse laço, veio o enlace, desse enlace vieram Manuel, Constantino, Pedro, João, Joaquina e Imaculada.

De Pedro, nada sei.

Já Imaculada casou-se cedo, teve muitos filhos, dos quais os nomes eu desconheço. Já sua irmã Joaquina não casou; e virou moça velha! Manuel tinha o espírito cigano. Tão logo engrossou a voz e criou pelo na cara, ganhou o mundo. Dele nada mais se soube. João gostava de trabalhar em Projetos: abriu estradas e rodagens de norte a sul do Piauí. Mas foi quando construía o mercado central em Oeiras, que conheceu Maria, que vendia doces na feira: doçura de mulher! Foi ela quem lhe adoçou a vida. Os dias de casado eram uma lua-de-mel contínua e de outras guloseimas. João e Maria queriam muito povoar a casa de filhos, mas estes nunca vieram. No fim da vida, Maria, já viúva e solitária, parecia um pouco amargurada com essa sorte.

Constantino, cabra afoito, foi morar no sul do estado do Piauí, levando Josefa e seus inúmeros filhos.

Desses filhos, Antônio foi ser pedreiro, construir casa, igrejas, escolas. Do telhado da nova escola, viu Maria. Moça esbelta, trabalhadora. Juntaram-se sob o mesmo teto e edificaram uma família. Viraram colonos daquela comunidade nascente lá pras bandas do sul do estado: fixaram morada, compraram terra e gado! Botaram os filhos e filhas na escola. Depois de crescidos, os filhos, como pássaros empenados, bateram as asas e foram-se embora. Mas, levaram os genitores juntos.

Um dos filhos gerou este texto, filho de pai sem mãe, não porque seja fruto de um mau passo, ou de uma pulada de cerca, ou fruto de uma infidelidade, mas simplesmente porque todo texto é uma concepção solitária.

04/08/2016.