A Casa Souza
Na esquina das ruas Marechal Floriano Peixoto com Coronel José Nunes, na cidade alta de Santo Antônio da Patrulha/RS, nas décadas de 60 e 70 encontrávamos a Casa Souza, tendo como razão social J. A. Souza, um comércio de Secos e Molhados.
O prédio antigo contava com duas portas e uma janela frontais num terreno com pequeno declive percebido quando da passagem interna com dois degraus da parte de secos para a de molhados. A madeira forrava o assoalho e teto com balcões também em madeira, arrematados com vidros para exposição de armarinhos e acessórios diversos. Já os tecidos ficavam expostos em prateleiras verticais impecavelmente dispostos. Na parte de molhados o piso era frio em estilo mosaico e os balcões de cimento com granitina.
Era um comércio tão bem composto que a grande maioria da população patrulhense se valia dele para abastecer a sua residência, seu vestuário e demais itens para levar a vida.
Desde tecidos mais finos como a seda, casemira, brocado, piquê, veludo cotelê e linho para vestuário mais requintado até riscado e chita eram encontrados na Casa Souza. Invariavelmente o riscado era adquirido para forrar colchões de palha.
Em termos de armarinho, na época, provavelmente era o estabelecimento com maior variedade. Lá encontrávamos fitas, viés, trancilins, gregas, rendas, botões, fechos, ganchos, elásticos, ilhoses, colchetes e afins.
Na parte de molhados as tulhas enchiam os olhos dos fergueses. Feitas de madeira abriam-se a cada pedido como se estivessem sorrindo com os alimentos que delas saiam para alimentar famílias das mais variadas localidades.
Em frente à Casa Souza havia uma parada de ônibus. Em razão disso, muitos eram os fregueses que vinham para a Vila do Monjolo, Evaristo, Campestre, Furnas, Cantagalo, Cantão dos Guilhermes, Pinheiros, Pinheirinhos e Catanduva Grande. Aproveitavam para fazer tudo o que precisavam na cidade e, no cair da tarde, entravam no estabelecimento para arrematar as compras que haviam feito quando da sua chegada na manhã.
A forma de cobrança era fielmente seguida com os cadernos, ou seja, todas as compras eram descritas em dois cadernos: um do freguês e o outro do estabelecimento. Geralmente as compras eram pagas no final de cada mês, dando-as por quitadas com um risco em cima da mesmas nos dois cadernos, sem qualquer assinatura que buscasse maior garantia para ambas as partes.
A Casa Souza abria suas portas de segunda à sexta das 07h30m às 12h00m e das 14h00m às 18h00m. A abertura tão cedo se dava em razão do recebimento dos pães que eram fornecidos diariamente pela Padaria Imperial. Aos sábados o horário era das 07h30m às 12h00m.
Não é à toa que o desenvolvimento dos atuais sistemas de atendimento à clientes tiveram na sua base essa importante “era do freguês”, onde todos eram chamados pelo nome, respeitados e conhecidos por suas preferências. Na época se fazia “relacionamento” de uma forma tão natural que, atualmente, se comentarmos com as novas gerações, muitas indagações poderão surgir.
28/06/2016