A Carcoma encapuzada e temida.
Segunda, treze. Ontem foi domingo, 12. Que diferença faz estes números? Absolutamente nenhuma. Meu dia, está sendo o mesmo de meses atrás, sendo obsidiado por algumas pessoas, tendo a minha própria individualidade sendo invadida por este grupo de pessoas.
Neste ponto, tu podes estar a pensar: "Eis um poeta louco! Eis um poeta esquizofrênico!"
E eu, durante tantas noites, almejei ser um poeta louco. Durante tantas madrugadas, desejei ser um lunático romântico. Mas trata-se da mais pura purguência, tenho uma micose e ainda a ciência não criou pomada para livrar-me dela.
E assim eu sigo. Contemplando, falsamente invejado, falsamente cortejado e falsamente visado. Mitomaniacamente; por parte dos micróbios; apenas vigiado.
Inconscientemente, todos sabem. Toda maldade neste mundo é consequencia da soberba e da vontade de ter. Sempre de ter mais.
Afinal. apenas os loucos cometem crimes sem nenhum interesse capital; de resto, todos se interessam pela grana.
Durante o demiurgo que foi criado, existe aquele que diz: Ele é isto. E assim, todos repetem: "ele é isto". De fato, eu sou isto. Porém, numa ínfima parcela do meu ser, convenço-me de que não sou isto, pois os meus inimigos querem me convencer à todo custo que sou isto.
De maneira direta, eu sou o "isto" que eles dizem, e ao mesmo tempo não sou este "isto".
Pois diferentemente deles, sou incomum; aliás, igualmente à eles, sou um individuo singular.
E assim seguimos, nesta grande proposta indiferente sobre a individualidade do ser;
Eles possuem direitos sobre quem eu sou? Jamais. Atualmente, eu sou o que eles pensam eu ser, pelo menos para os outros. Mas eu continuo sendo quem eu sou, dentro da minha individualidade, e duvidando sempre da opinião duvidosa daqueles que querem destruir o que eles supoem que eu seja. De forma resumida, eu sou um conjunto da sombra de pessoas que assim como eu não pagas para destruir o que eu era, ou o que eu sou atualmente.
Eles, são algo; algo que sem dúvidas eu tenho muito a abstrair.
Eu sou um lixo; eu sou fruto do que absorvi daqueles que são melhores que eu, de uma forma ou de outra. E eu, absorvo tudo do que me é passado por estes, que de uma forma ou outra me influenciam. Eles balbociam, eles rejeitam, eles negam e eles criticam. Eu sou fruto daqueles que usufruem do meu direito de pensar.
Eu sou um lixo.
Relato de uma adolescente de 14 anos, Jéssica M. de V. pertencente à uma família de classe baixa, dos subúrbios do Rio de Janeiro, nascida em meios aos dejetos, conhece a fome, a miséria, o abuso, e do descaso.
"Não moço, não passo fome não. Sempre tem alguma coisa pra comer... Quando tem fruta, a gente vê se tá fedendo né? Ou vê se num tá cinza ou verde. Se num tivér, nóis põe na sacola. Quando tem livro, nóis guarda também. Tem gente que compra. Já achei dinheiro também sinhôr, acredita? Uma nota de dez toda molhada, deixei no sol e secou. Mas num passo tanta fome não. Sim, já fiquei dois dias sem cumê, mas isso num é fome né? Tem gente aqui que fica uma semana... Quando chove não tem como trabalhar. Melhor morrer de fome do que de tubeculósie né senhor?"
Contrangido estou agora; jamais iria imaginar que outro alguém estaria tão conformado com uma desrealidade tão abismal quanto à que estou vivendo.
De uma maneira ou outra; eu sou parte da carne podre da Jéssica. Eu sou a parte podre da sociedade que Jéssica jamais iria imaginar existir. Eu pertenço à este microcosmo, do cosmo que eu sou pertencente, e que imploro à todos os santos, ser um pouco do que a Jéssica é.
Quem derá se os meus heróis se importassem com a Jéssica.