EXCUSE ME (COM LICENÇA)
Comentários no link http://carloscostajornalismo.blogspot.com.br/2016/06/excuse-me-com-licenca.html
Deliciava-me ouvindo música “Excuse me”, sentado no banco dianteiro do veículo de minha esposa Yara Queiroz, quando no lado direito e sem “com licença” apareceu uma veículo funerário, com a sirene ligada, levando o corpo de uma pessoa para um cemitério da cidade. Confesso que as recordações maravilhosas que estava tendo sobre a juventude que poderia ter vivido se foram também. Ou seriam sepultadas junto com aquele corpo que seguia em um caixão, em um veículo de da funerária São Francisco? O barulho da sirene despertou-me dos delirantes sonhos que estava tendo, relembrando de toda a adolescência que não vivi completamente. Quando a música fez sucesso mundial, estudava e vendia jornais nas ruas de Manaus.
A musica foi gravada pelo cantor e compositor filipino em 1974 que ficou mundialmente conhecido pelo nome de Junior. Ela foi composta por S. Naper Bell/A Morales pelo cantor e ator filipino radicado na Espanha. Seu nome completo era Antonio Morales Barretto Junior. Junior gravou a música Excuse me ou com licença, em português, aos 31 anos de idade e faleceu no dia 15 de abril de 2014, aos 98 anos de idade, segundo informações que retirei da internet. Isso não importa muito.
O que importa é que sem pedir com licença, o veículo funerário com a sirene ligada parou ao lado do veículo de minha esposa, no semáforo vermelho, em frente ao Cemitério São João Batista, o mais antigo de Manaus e chamou minha atenção e retirando-me das recordações que vendia jornais em Manaus, na época em que “Excuse me” começou a fazer sucesso em todas as festas em residências. Vendia jornais na Calçada dos Correios, da Rua Marechal Deodoro e uma senhora dirigindo uma Belina parava ao meu lado, no início da ladeira e pedia para bater os tapetes do carro dela. Depois pedia para retirar de cima do banco traseiro um lanche com suco e pão que trazia todos os dias. Nunca soube o nome da senhora e nunca tive coragem de perguntar. Era muito tímido e magrinho, pesando pouco mais de 22 quilos na época. O tapete do carro nem sempre estava sujo, mas sempre fazia. Será que ela pensava que estava enlouquecendo por vender jornais na rua debaixo de um sol forte do verão de Manaus ou da chuva torrencial nos outros seis meses do ano, quando lhe contava que tinha um sonho de ser jornalista. Parecia. Mas não estava. Tinha apenas consciência plena de que enfrentaria dificuldades, Consegui fazer duas faculdades públicas, na UFAM, nos cursos de Comunicação Social e anos depois, no de Serviço Social e nas duas atividades exercer com responsabilidade e respeito, sempre entendendo que ninguém é superior a ninguém. Não era fácil enfrentar a grande umidade de Manaus, seguido de um forte calor. Para aquecer-me do frio úmido das madrugadas de Manaus, outros pequenos jornaleiros usavam maconha e me ofereciam também. Depois, passavam a usar outras drogas e muitos morreram junto com elas – se é que tinham sonhos a realizar! Dos jornaleiros que morreram pelo vício da droga, será que algum deles teve a oportunidade de ouvir e dançar ao som da música “Excuse me”? Sabia que se entrasse no vício, teria dificuldades para sair e realizar os sonhos que tinha, embora nada fosse ensinado nas Escolas. Hoje, são temas recorrentes até na internet.
Mas voltemos à música “Excuse me” (Com Licença) e esqueçamo-nos das lembranças que estava me dando um prazer orgásmático. Elas talvez fossem sepultadas junto com o cadáver que me fez olhar para o lado. Depois que perco o foco de um pensamento, dificilmente volto a pensar no mesmo assunto e antes que esqueça essa cena, decidi registrar esse fato: um cadáver com a música “Excuse me” . O que tem a ver essa antiga música, com cadáver e as lembranças? Nada, mas me levou a algumas reflexões bobas: será que o cadáver que seguia para o cemitério tinha escutado “Excuse me” e dançado coladinho ouvindo a música que escutava naquele momento? Talvez sim, talvez não, mas decidi não importunar o motorista para perguntar qual a idade que o defunto teria quando falecido! Poderia achar-me louco por perguntar ou poderia me dar uma resposta estranha e simplesmente perguntar-me também: “Por que você quer saber?”
Como não era parente da vítima ficarei na dúvida, que me remeteu a outros pensamentos: por que vivemos tão pouco se somos bons e poderíamos ter vivido um pouco mais ou por que vivemos tanto, fazendo maldades? Também não sei a resposta e deve ser apenas um plano de DEUS!