E A NOIVA APRONTOU, SOBROU
E A NOIVA APRONTOU, SOBROU!
“ Ó tempos, ó costumes! “ ( Cícero)
“A condição das mulheres é determinada por estranhos tempos, dominadas e protegidas, fracas e poderosas, excessivamente desprezadas e excessivamente respeitadas” ( Marguerite Yourcenar)
Este fato aconteceu no final da década de 1920, numa pequena cidade do interior baiano, onde a população era submetida ao dominío dos “coronéis” que mantinham seu poder graças à politica dos governadores. A sociedade viivia em um mundo á parte, através do voto cabresto e não podia influir na politica nacional. A cidade era comandada por esses “coronéis”, uma espécie de patriarca, que ditavam as “leis” da cidade.
E foi nesta cidade que aconteceu este fato pitoresco. Dois jovens ( ela com 16 e ele com 22 anos) se apixonaram, sendo o rapaz de uma familia humilde sem ter nenhum “coronel” como protetor e a moça filha de fazendeiro, consequentemente, com poderes sociais garantidos na terra.
Como toda cidade de interior, em especial antigamente, um dos hábitos tradicionais era a ida aos domingos na única igreja da cidade e, como todo católico praticante era costume antes da missa fazer a confissão dos pecados, tendo como representante de Deus o padre, este que, por ser uma uma pequena cidade já conhecia de cor e salteado os pecados de todos. A depender dos pecados eram dadas as punições para daí terem direito ao sacramento da comunhão.
Essa jovem era uma delas. O padre a conhecia e os seus pecados, como também era muito comum o padre, conhecido por todos, frequentar a casa de algumas famílias,incluse a dela.
Não se sabe ao certo se aconteceu algo de real entre o padre e a referida moça. O fato é que a moça, ou envaidecida com a “corte” do padre ou para fazer ciúme ao noivo, contou a este que havia recebido um bilhete do padre fazendo-lhe a corte.
Pensem isto na dácada de 20, numa pequena cidade do interior baiano? Foi “um –Deus – nos - acuda”... um “ ba fá fá”, um “disse me disse”...
O noivo foi tirar satisfações do padre e logo, as famílias dos dois ficaram sabendo e toda a cidade, é claro.
Os irmãos do noivo se juntaram, pegaram o padre na igreja e o levaram para um matagal para darem uma surra. Os “coronéis da cidade e amigos da família da noiva ao tomarem conhecimento do ocorrido tomaram o partido do pai e da noiva. Estava declarada a “guerra” à humilde família do noivo.
A noiva ao tomar conhecimento da situação contou que ela inventara tudo aquilo para fazer ciúme ao noivo. Ela que tinha escrito o bilhete, pois tinha facilidade para imitar a letra de outras pessoas! Pensem que situação!
Claro que o noivado foi desfeito. A noiva ficou reclusa em casa, obedecendo ás ordens do pai e o noivo foi rechaçado pela sociedade, sendo forçado a retirar-se da cidade. Os ‘coronéis” da cidade passaram a perseguir todos os membros da sua família. Um deles foi o mais atingido; ele era casado com a filha de uma desses “coronéis” que ficou inimigo do genro e este, coitado, tendo um estabelecimento comercial na cidade foi forçado a fechar as portas, pois a maioria da sociedade local (súditos dos coróneis) ficaram proíbidos de comprar no respectivo estabelecimento e, ao passar pela porta desciam a calçada e cuspiam no chão em sinal de protesto.
Moral da história: o irmão do noivo faliu e foi obrigado a sair da cidade, “com uma mão na frente outra atrás” e recomeçar sua vida do zero na capital; o noivo dois ou três anos morreu de depressão e a noiva ficou solteirona, vivendo mais de noventa anos, levando uns vinte anos sofrendo de demência.
Ao contar parece coisa que só acontece em novela, mas que aconteceu, aconteceu! Naquela época o caso foi grave, trazendo consequencias irreparáveis principalmente para a familia do noivo. Hoje os descendentes dos noivos se divertem ao ouvir esta história.
Em 22 de março de 2015
GSpínola