COMO QUASE AOONTECEU
Foi tudo muito rápido. Vinha caminhando pela rua como faço todos os dias, quando ele apareceu. Era imenso. Vinha com seus passos fortes, determinados, prontos pra esmigalhar o que encontrasse pela frente. Quando o vi, fiquei tomada pelo medo. Este terror me fez paralisar inteira em fração de segundos. Mas tinha que fazer alguma coisa, não podia deixar ele me destruir assim, sem que tivesse qualquer reação. Não podia morrer sem ao menos tentar lutar, sem ao menos tentar fazer alguma coisa. Então ele me viu. Com seus olhos enraivecidos de um ódio que parecia maior do que tudo neste mundo, ele veio me esmigalhar. Nunca vi tal fúria assim em toda minha vida. Que direito tinha de acabar comigo desta maneira? O que lhe fiz para querer me estraçalhar sem qualquer piedade? Estas dúvidas começaram a girar na minha cabeça como se fossem o preâmbulo do meu fim. Como se fossem a minha sentença de morte, sem qualquer chance de defesa. Pensei nos meus pais, nos meus irmãos, na minha vida toda até aquele momento. Pensei nas coisas que fiz e que deixei de fazer. Pensei em tudo naqueles segundos derradeiros da minha existência. Então na hora em que estava já acabando comigo, ele desistiu e recuou. Talvez tenha sentido algum tipo de remorso, acho que algum sentimento positivo aflorou dentro dele que o fez segurar seu impulso destruidor. Quando o vi indo embora, sumindo no horizonte, respirei aliviada. Algumas emoções nunca mais serão esquecidas. Mesmo para a trivial e rotineira vida de uma barata.
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