Um prego
Sabe aquela fase em que começamos a nos conhecer e achar que somos gente grande e pensamos que nossos pais são obrigados a nos aturar e fazer nossos gostos. Pois então, foi nesta fase chamada pela maioria de pré-adolescência, que fiquei presa na catraca de um ônibus, pesando exatamente 37 kg, com 1,50 de altura. É não dá pra acreditar, mas aconteceu.
Neste dia, minha mãezinha como sempre acordou-me no horário de habitual para ir à escola. Fiz todos os procedimentos: tomei banho, vesti a farda, ingeri a refeição matinal, escovei os dentes. Por fim, despedi-me dela e fui para o colégio estudar. Na ida tudo na maior tranquilidade dentro do ônibus.
Confesso que nunca deixei de fazer traquinagem, dava um jeitinho de fugir às regras. Gostava de estudar, mas minha paixão era o basquete. E por esta razão, burlava o inspetor só para conseguir chegar à quadra na hora imprópria, em que a maioria dos alunos estavam em suas salas. Digo a maioria, porque sempre havia aqueles que como eu, burlavam as aulas.
Numa dessas saídas pela tangente, cheguei ao ginásio da escola e o jogo já estava na terceira partida e a minha seria a próxima. Enquanto esperava a vez, o Dieguinho, colega de classe, aparece avisando que dois dos inspetores se aproximavam. Como não podíamos ser vistos, saímos correndo pela porta lateral da quadra. Cada um em direção a sua classe. Dos quinze alunos envolvidos, dez eram da minha turma.
Na correria invadimos a sala, na qual, a professora de inglês ministrava sua aula tranquilamente, assustou-se com o tumulto dos alunos. Neste momento, empurrei, pisei no pé de alguém, na maior luta para chegar à minha carteira. Quando sentei senti que havia sentado em algo que furou meu bumbum. Imaginei que seria um prego. Coloquei a mão e percebi um rasgão enorme. Não acreditei que havia sentado em um prego, para desespero meu. Cochichei com as coleguinhas mais próximas. E elas riram, mais riram tanto que fiquei envergonhada.
Grudei no assento e nem para lanchar saí. Quem não sabia da história, estranhou meu comportamento, perguntando se eu estaria bem. Permaneci naquele lugar até tocar a sirene avisando o término das aulas. Para meu aperreio, gelei, suei frio, quase chorei sem saber exatamente como sairia dali sem que notassem o rasgão na calça jeans, bem no bumbum.
Pensei, pensei até que uma das amigas de classe sugeriu que eu saísse com a mochila pendurada no local do rasgão. Assim cobriria e eu poderia sair sem que os bagunceiros notassem e começassem a tirar sarro. Fui tão rápida ,quando dei por mim, já estava na parada de ônibus, doidinha para ir para casa. Chegando o coletivo, subi aliviada, fui passar na catraca, porém, fiquei entalada. Nem para frente e nem para trás. Literalmente entalada. Fiz força e nada. O cobrador estava impaciente “Ô menina, não dá pra você passar com essa mochila no bumbum, a roleta não faz milagre. Vamos passando!”
E agora? O que vou fazer? Se eu tirar a mochila todos aqui irão ver o rasgão e a calcinha listrada. A taquicardia tomou conta e fiquei nervosa, vermelha. Por livre espontânea pressão, voltei, retirei a mochila e coloquei a minha mão no lugar. Tentei passar, mas para minha tristeza, fiquei presa devido ao meu braço. Dessa vez o cobrador já estava bufando de raiva. Não teve jeito. Para meu azar todos os que estavam por trás da roleta viram o que o prego fizera na calça da escola, revelando assim minha calcinha listrada. As risadas tomaram conta do local, baixei a cabeça odiando aquele maldito prego.