O trote
Palmas pro trottoir. Sobretudo quando é feito com elegância. É uma “parade” antiga. Trottoir sim, mas o trote não.
Nunca achei legal o lance de dar cascudos sem motivo nos alunos recém-chegados ou mandar que eles medissem certa extensão do meio-fio com palitos de fósforo. No dia do trote, como veterano eu não ia.
Esse tipo de ocupação das escolas me lembra um pouco o trote. Escolas sendo trotadas. Em alguns casos vandalizadas. Um espaço que devia ser sagrado. E o mais angustiante – todo mundo há meses sem aula. Num país em que, até pela expressiva extensão territorial, proporcional ao número de iletrados, a educação e o conhecimento deveriam ser tratados com o maior carinho. Para que a população tivesse chance de não se deixar iludir pelos pérfidos governantes.
Claro que os professores têm que ganhar mais. E pontualmente. Como também os inspetores, pessoal de apoio, etc. E que as condições materiais do prédio, assim como sua infraestrutura básica de ensino, deveriam ser as melhores possíveis. Mas a pura e simples ocupação, com uma prolongada interrupção das aulas, pode garantir isso? Ou projetaria, através da mídia, um futuro vereador, mais tarde senador, depois de ter pintado o rosto?
Não haveria um modo mais profícuo, com maior sentido de organização, de se lutar pelas mesmas coisas? Com um ramo de flores não se consegue colocar um bando de comandantes ineptos e suas baionetas contra a parede? Não houve alguém que parou um canhão?
Sei que posso ser expulso, mas dar trote em escola, não. Porque deveria ser um local tão sagrado quanto um templo. Certamente mais.
Rio, 16/05/2016