DIPLOMATA BRASILEIRO SURPREENDE NA SUA POSSE NA ONU

Para aquele diplomata conquistar o posto de Secretário Geral da ONU não foi nada fácil. Começou sua trajetória como os demais colegas, ocupando o cargo de Terceiro-Secretário na embaixada brasileira em Gana. Foram 40 anos dedicados à carreira diplomática, tendo passado por 12 países, nos quais marcou sua atuação com competência, ética e responsabilidade, sendo exemplo para seus pares. Tanto que por 6 vezes foi convidado pelo Instituto Rio Branco, Brasília, local de formação dos diplomatas brasileiros, a palestrar para alunos e formandos, oportunidades em que foi ovacionado ao contar suas experiências tão diversas - muitas delas áridas e delicadas. Teve que lidar até com guerra civil em inúmeras ocasiões, precisando sair escoltado da embaixada em meio a um fogo cruzado sem fim. Mas também passou por momentos de glória inesquecíveis, quando pôde ser um dos responsáveis pelos acordos de paz em países do território africano que não conseguiam se entender há quase um século e que agora estão compondo uma nação única, alinhada e coesa, com sua economia equilibrada, com seu povo podendo viver com dignidade e criando seus filhos da melhor forma - bem diferente daquele cenário grotesco de pobreza e violência sem trégua que vigorou por tanto tempo. Este diplomata chama-se David, nome que lhe foi dado pelos seus pais talvez como presságio de que seria capaz de derrotar gigantes ao longo de sua vida, sejam eles os gigantes da injustiça, da desigualdade, da falta de solidariedade. Então chegou o dia da sua posse no cargo máximo da diplomacia mundial, que pela primeira vezes estava sendo ocupado por um brasileiro. Salão Nobre da ONU lotado. Além do presidente do Brasil e de 8 presidentes provenientes da América Latina, inúmeros reis, primeiros-ministros e 10 presidentes das principais potências mundiais também marcaram sua presença, entre centenas de outras autoridades. É praxe na ONU que a posse do Secretário Geral seja um evento concorrido desde a sua fundação, em 24 de outubro de 1945, mas nunca aconteceu de reunir tantas personalidades, como naquele memorável dia. Quando o diplomata David subiu na Tribuna de Honra para proferir seu discurso de posse, fez algo inédito: decidiu pedir um Minuto de Silêncio por todas as pessoas inocentes que morreram por conta de atos terroristas em qualquer região do planeta, desde os primórdios da humanidade. Quando o David, com seu inglês perfeito, explicou que este pedido representava a essência de sua carreira diplomática e que, portanto, traduziria com maestria toda sua expectativa ao aceitar aquele desafio que seu novo cargo representava, a ONU inteira se calou. Não se ouvia nem o som do respirar de uma única pessoa. Parecia que aquele imenso auditório abarrotado estava literalmente vazio, por incrível que isso possa parecer, dando a impressão de que todos os presentes tinham se transformado em verdadeiras estátuas. Então o jovem diplomata deu um espirro. Não foi um espirro qualquer, foi um espirro imenso, avassalador. Como estava na frente do microfone e não se ouvia absoluta nada naquele momento, o som emitido por sua boca fez tudo tremer. As centenas de câmeras de TV que transmitiam sua posse ao vivo para o mundo todo replicaram aquele som ensurdecedor para bilhões de lares que acompanharam o evento com toda atenção e a internet se encarregou de espalhar a cena para os quatro cantos do planeta em segundos. O David mesmo percebendo o constrangimento da situação, não se deixou abater. Deu uma profunda fungada e sorriu para todos, demonstrando uma classe e categoria de quem tinha na sua bagagem de vida todos os requisitos para ocupar aquele cargo da melhor forma. A plateia não podia ter outra reação: aplaudiu-o por quase 2 minutos, iniciativa que demonstrou o quanto concordava e respeitava sua nomeação. A reação surpreendente do diplomata diante daquela inusitada cena comprovou que estava apto a lidar com quaisquer ocorrências que fizessem parte do seu caminho a partir daquele dia. E assim pôde assumir suas novas funções com a aprovação de todos.

Apenas um pequeno adendo: este David, personagem da crônica, é de fato meu filho primogênito, atualmente com 20 anos, estudante de Relações Internacionais na FACAMP, em Campinas. Ele quer seguir carreira diplomática e imaginei esta cena para daqui uns bons anos, apesar de, infelizmente, não poder estar lá para aplaudir também. Mas de onde estiver estarei aplaudindo com maior orgulho do mundo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/05/2016
Reeditado em 11/05/2016
Código do texto: T5631668
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