A VIDA COMO ELA É

Trabalhei por muitos e muitos anos numa grande corporação e convivi com várias e diferentes pessoas. Entre o período de férias e o tempo de aposentadoria decorrido, não se passou um ano e meio. Descontando aqueles colegas que têm um modo de viver mais peculiar, que não são e nunca foram de muitos contatos, e aqueles com quem eventualmente interajo no FACEBOOK, posso dizer que, efetivamente, convivo ou me comunico ainda, e não muito intensamente, com uns quatro ou cinco. Calculo que esta é uma média bem comum, sobretudo para quem não se envolve com a vida associativa derivada da organização. O que isto significa? Para mim, a rigor, muito pouca coisa, mas dá para concluir que as relações no trabalho – por força da competição, das cobranças, dos interesses pessoais e conveniências – pouco agregam espiritualmente ao indivíduo dentro de uma perspectiva mais longa e transcendental de tempo. Pena. Não critico ninguém, porque não sou muito diferente. É a vida moderna. O trabalho não é como o colégio, a faculdade, a aliança francesa, o clube social, a galera do boliche, do futebol ou da carpeta. Trabalho é para cumprir contrato, salvar o leite das crianças e tentar fazer um nome, subindo na carreira, conquistando clientes, ganhando causas e algum respeito. O resto, geralmente, é detalhe, circunstância ou bônus. Nossa vida privada não tem nada a ver com o que a gente faz como obrigação. É como filme policial ou de agente secreto, em que o mais correto é esconder o jogo e preservar a intimidade. Talvez tenha sido sempre assim. Não lembro muito bem dos meus primeiros tempos no escritório ou em empresas públicas ou privadas, mas creio que as transformações não foram maiúsculas. Finalmente, o que acontece é que, em tão pouco tempo, a gente acaba praticamente esquecendo tantas e tantas situações importantes de vida. Juro que acho, vez que outra, que nunca trabalhei e que a vida foi sempre assim, eu e meu mundo. Nem sei se lembram muito bem de mim, às vezes creio que não. Longe de ser sentimental, sou, no entanto, muito atento à questão de raízes.