Ensaio sobre a ignorância voluntária adquirida
Era começo de 2012 e um curioso fato passou a acontecer no Brasil. As pessoas começaram a perder parte de seus cérebros. O primeiro fato que se ouviu falar aconteceu no trânsito, no interior de São Paulo. O rapaz estava tranquilamente parado no sinal vermelho quando ao seu lado parou um carro, aparentemente inocente, um Golf prata rebaixado e com aros de um brilho tão ofuscante que fariam Steve Wonder cerrar os olhos. O elemento condutor trajava camisa nenhuma, boné vermelho e um nada belíssimo óculos escuro na cara. Do carro berrava algo como “Senta senta toma toma” ao peculiar ritmo de funk carioca. Comum por esses tempos. O rapaz encarou o elemento do Golf ao lado e foi aí que algo estranho aconteceu. Com um sonoro “Pop”, uma pequena pessoinha surgiu ao lado da cabeça do rapaz, enquanto esperavam o sinal abrir. Era pequenininho, do tamanho de sua orelha, vestia uma camiseta vermelha e uma calça jeans. E estava descalço. Ele falou, em uma voz surpreendentemente grossa e audível para o seu tamanho “Para mim já deu. Tô indo embora daqui.” E então ”POP”, sem mais nem menos, sumiu. Mas o rapaz, porém... o rapaz estava diferente. Se deu conta de que não sabia o porque estava esperando parado no sinal vermelho. Engatou a primeira e arrancou estupidamente rápido. Por azar um ônibus passava na transversal e acertou o carro em cheio, causando uma morte horrível ao rapaz, mas isso não vem ao caso agora. O que vem ao caso, é que essas coisas começaram a ficar freqüentes, e aparentemente seguindo um padrão. Pessoas dirigindo carros regurgitando sons altíssimos, adolescentes que dançavam em movimentos que mais pareciam espasmos de agonia, jovens embasbacados em frente ao computador. Sempre igual: “POP”, homenzinho, revolta, “POP” de novo, catatonia. Após algumas observações e estudos, descobriu-se que o cérebro dessas pessoas meio que estavam murchos, como bolas de futebol furadas. Como o recheio, ou a essência, dizem agora, sumisse. Catastrófico. Irreversível.
Os que não morrem ficam assim, abobalhados, olhando para o tempo como se tentasse se lembrar de alguma coisa. Não que fossem muito diferentes antes, mas muito mais quietos. Algumas pessoas estão preocupadas, outras até aliviadas.
Acho que essas pessoinhas, ou essências cerebrais, sei lá, devem estar em algum lugar mais tranquilo, construindo uma nova sociedade. Quero visitá-las, conhecer seus motivos. No meu fone de ouvido está rolando um funk ostentação dos bons, na TV uma dupla canta algo sobre balada, camarote e bebida. Estou finalizando a compra de um livro de um youtuber adolescente na internet enquanto passa um vídeo de alguem reclamando de alguma cois...
“POP!”