DO BREJO AO AGRESTE PARAIBANO

O sol batia forte e ainda não passava das dez horas. Na pequena e quente cidade do brejo paraibano, como geralmente é conhecida esta parte da zona da mata no litoral da Paraíba. Três visitantes, na verdade dois, porque um era da terra, embora houvesse saído de lá para o sudeste, há 37 anos. Muitas coisas já haviam mudado, embora, as ruas fossem suas velhas conhecidas. Buscavam um carro de praça para os levar a uma outra localidade, que ficava a menos de 12 quilômetros de Solânea, antiga Vila de Moreno. Apesar da pequena distância, a cidade de Araras, está plantada no agreste, limiar entre o brejo e o Curimataú, ou Curimatá, (zona da caatinga apropriada para criação de gado). Araras é uma pequena povoação fincada no Planalto da Serra da Borborema e é muito famosa por sua feira livre ou feira de rua, sempre as segundas feiras. Um local onde se vende de tudo, carne de sol, verduras, legumes, frutas, grãos, animais, temperos os mais diversos, iguarias que não são encontradas com facilidades no sul e sudeste deste nosso imenso país continente.

Após alguns minutos de procura, um senhor aproxima-se e se oferece como motorista para os levar ao local solicitado por apenas vinte reais, e ainda esperaria quanto tempo fosse necessário. Surpreendidos pelo valor cobrado, os visitantes aceitaram de imediato a disponibilidade daquele senhor e tomando o carro seguiram rumo a cidade vizinha.

Ao chegar no primeiro posto o motorista parou e pediu para o frentista, colocar Dez Reais de combustível, pagou, entrou no carro e prosseguiu seu itinerário. Quando o automóvel atingia uma certa velocidade, ou uma parte de descida na estrada, ele desligava o motor e tranqüilamente dirigia no embalo do veículo, até que a velocidade atingisse uns cinco ou seis quilômetros por hora. Os passageiros, não entendiam esse tipo de economia, já que, economizava no combustível e perdia no tempo.

Com esse comportamento de liga e desliga do motor, enfim, chegou-se ao tórrido povoado do agreste e logo adentraram pelas pequenas vielas enquanto o motorista acostava o carro para aguardar o retorno dos seus passageiros. Via-se ao longo das estreitas calçadas, barracas cheias de quinquilharias, para quem se dispusesse a pagar poucos Reais pelas miudezas disponibilizadas em cada banca. Pessoas com características diferenciadas, sempre com muita pressa tanto para vender como para comprar. Mas, faziam da cortesia e acolhimento o cartão de visita daquela localidade.

Os visitantes foram em busca de uma revendedora de calçados, com quem haviam conversado em Solânea, e esta prometera levar umas sandálias femininas de primeiríssima qualidade e por um preço imbatível. Logo, avistaram a rua onde ficavam as mesas com uma variedade de calçados sem precedentes e puderam visualizar a senhora que já os havia atendido. Cumprimentaram-na e foram cumprimentados, e podemos imaginar os minutos seguintes. Feitas as compras, despediram-se da vendedora e percorrendo outras ruas, algumas lembranças regionais foram adquiridas por preço muito pequeno e só não compraram mais porque o carro estava a uma certa distância.

Os três comentavam, haver lhes causado espanto, tanta gente em uma região onde as habitações ficam distantes umas das outras. A terra parecia muito árida, árvores rasteiras sem fornecer um bom sombreado para os animais. Mesmo assim, as pessoas pareciam felizes, sem se dá conta de tudo aquilo que ia passando na mente dos forasteiros, pelo menos era o que aparentava.

Apesar da aparente aridez das terras, nunca nossos visitantes haviam visto tantas frutas, verduras, legumes, grãos, a disposição de quem tivesse alguns Reais no bolso e quisesse comprar. Segundo o motorista, durante o retorno, grande parte de tudo que era vendido ali, seria proveniente do brejo.

O que mais impressionou aos três viajantes foi ver a vontade de um povo, através dos seus feitos. Comentavam: é uma pena que os mandatários desta nação, não forneçam os meios necessários para evolução ou revolução do homem no campo, haja vista, essa região. O povo cá está, e a coragem também está nesse povo.

O senhor João prosseguia no liga e desliga do motor de seu carro em direção a cidade de Solânea, sabe Deus, quanto tempo levaria para chegarem à origem da viagem...

Janeiro de 2007.

Feitosa dos Santos, A.