“EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO!”
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Para a colega Assistente Social, Paula Francinete Batista. (1971/2016)
No primeiro dia que a pessoa nasce, também representa o primeiro dia do início de sua morte. A vida já começa morrendo! Contraditório? Nem tanto. É uma realidade que constato a cada vez completo mais um ano. Sei que terei um ano a menos para comemorar!
Ha muito tempo deixei de comparecer a velórios e enterros. Mas como me sei também mortal, decidi comparecer a velórios de pessoas que gostava e admirava muito em vida, como o de Lúcia de Fátima e, agora, o da colega Assistente Social, Paulo Francinete Batista, ambas falecidas de câncer. Com Paula Francinete, colamos grau juntos na turma de 1995, da UFAM. Seu corpo, dentro do caixão, rodeada de flores com um crucifixo ao peito, parecia apenas dormir um sono profundo para acordar ao lado de Deus. A colega Assistente Social estava com um rosto sereno para quem sofrera tanto de dores do câncer, em vida!
Como colega de turma, Paula também fezia parte do grupo de trabalho formado no primeiro período do Curso. Não se conhecia ninguém e se tinha que escolher componentes para compor a equipe dos trabalhos que viriam depois. A escolhi para compor nosso grupo. A colega Ruinaltina Moraes Pires, a “Tina”, ofereceu sua casa e aceitamos, para realizar o primeiro trabalho em equipe. Pegamos o endereço e nos dirigimos para lá. A Paula, quando chegou, cumprimentou a todos lá já se encontravam e se dirigiu direto para a cozinha. Depois, chegou a colega Rosa Ney de Assis e foi ajudá-la As duas se revezaram na cozinha, enquanto, os outros da realizavam o trabalho, deitados no chão da garagem da casa da colega Tina. Só parávamos de fazer o trabalho, quando o concluíamos, totalmente. A tarefa de revisar cabia a mim. Depois, dividíamos quem falaria o quê, durante a apresentação em sala!
Lembranças da colega Paula ficaram e permanecerão gravadas na minha memória, corroída pelo tempo e manipulada por cirurgias no cérebro desde 2006 e de todos também. Todas as que guardo; porém, são inesquecíveis. Paula tinha um gênio forte, dizia o que pensava, na hora que queria e batemos de frente inúmeras vezes. O meu temperamento também era forte, porque desde meus 26 anos, estava acostumado a comandar jornais, órgãos e tomar decisões. Reclamava demais porque a Paula não queria fazer nada! “E fazer almoço, você acha que é não é querer fazer nada?” me perguntava. Ficava calado e concordava que era. Tínhamos que ter comida para lanches, almoços e até jantar!
No velório, emocionado, olhei para o rosto da colega Paula, passei a mão em sua testa e, ao final da celebração da missa de corpo presente, contornei o caixão e disse alto, na posição de seus pés, fixando o olhar meio turvo, para o rosto dela: “Paula, você não morreu; apenas, dorme para despertar no céu, ao lado de Deus”. Segurei o choro. Lágrimas que reprimia, queriam a escorrer de meus olhos. Disfarcei, ninguém parece ter notado a emoção que estava sentindo, principalmente por ter quebrado a promessa mental feita a mim mesmo de não comparecer a velório e sepultamento. Sinto, ainda hoje, que deveria ser enterrado no lugar da pessoa inerte dentro do caixão.
É...a minha “Patinha”, Paula Francinete, que morava no Rio de Janeiro com seu esposo e sempre que vinha a Manaus me fazia visitas, você fará muita falta a todos seus colegas que tiveram a oportunidade de conhecê-la como tivemos, durante cinco anos de Faculdade, no Curso de Serviço Social. Vá em paz, colega. Um dia eu a encontrarei e poderemos dizer um ao outro como nos admirávamos.
Para encerrar essa crônica de até breve, tomo emprestado a frase “eu não sabia que doía tanto”, do livro “Crônicas da Família Gosson,” escrito por Antônio Gosson, presidente da UBE de Natal, com a qual sempre encerrava suas narrativas sobre a perda de membros de sua família.