Cego ou Caolho?

Ela não foi acostumada a se enquadrar. Falha de criação? Acho que não. Deve ser falha de nascimento mesmo. Bem que tentaram, mas desde quando criança não se enquadrava. Dava o "mó" trabalho! E frequentemente se via diante de olhos e expressões estupefatas. Ao que reagia com tamanha naturalidade interrogativa como se não entendesse o porque do espanto, e não entendia mesmo, como se fosse a pessoa de atitudes mais corretas e seguras desse mundo. Sempre na frente, sempre atrás do novo, buscando inovações que deveriam satisfazer uma ansiedade curiosa. Isso tem um lado bom e, como tudo nessa vida, tem também um lado nem tão bom assim. Se você estuda e lê muito, quando sai para o convívio, destoa.

E vai saber o que passa pela cabeça das pessoas. Aliás, algumas cabeças expõem:

- Nossa, que é chic!

- Puxa vida, que fina!

- Ah, que antipática! (autoconfiança vira antipatia)

- Ih... sabe tudo, acha que é Deus (com total escárnio).

E a maioria fala através do comportamento.

Em nenhum momento param para pensar como poderia se sentir.

Se sentir diferente não tão é confortável assim. Para início de conversa, é necessário um tempo para que se conscientize dessa verdade: "diferente sim, mas não pior" e, na melhor das hipóteses, "não melhor também". Até que com humildade e tudo, reconhece que estudou mais, leu mais, aproveitou melhor a escola... tudo é sofrimento. Porque agridem? Porque não gostam? Porque criticam? Porque debocham? Porque não é da turminha? Se é, porque meio excluída? Porque eu? Porque? Porque?

E, quando finalmente se sente impelida a compreender o distanciamento que se impôs simplesmente por dar vazão aos seus ímpetos criativamente curiosos, compreensão também embasada em testes vocacionais, se depara com uma outra informação. "Se você está numa melhor condição, é você quem tem que entender". Pode ser frustrante e desolador quando descobre que tem que entender, sem poder pensar na possibilidade de ser entendida.

As pessoas porém, necessitam de parâmetros para se sentirem confortáveis, e como um náufrago se afogando, desesperadamente estabelecem parâmetros embasados unicamente no tipo de conhecimento e vivência que possuem. Pensar fora da caixinha é para poucos. (Tem que, no mínimo, ter sido aluna da Maria Cristina). E assim se vê estabelecida dentro de um parâmetro apertado, fechado, sem horizontes. Só que, o problema dessa questão é porque é estabelecido pela maioria. E aí já se sabe, desde muito que "em terra de cego, quem tem um olho é caolho". E ela se questiona: Cego ou caolho?

Não tem volta!