NÃO CONSINTO QUE SEJAS SUCINTO
Certa vez, um leitor de minhas crônicas em jornal me falou (ou reclamou, sei lá): teus textos estão muito sucintos. Sucinto é o mesmo que conciso, breve, condensado, compactado, etc. É um texto magrinho, um texto sem lipídios, sem firulas (consegui explicar ou compliquei mais?).
Amigo, será que preciso responder? O jornal lhe dá um espaço e você que se vire. Mesmo que o cérebro velho fervilhe de idéias, é imprescindível afiar a tesoura. É escrever e depois ir cortando diálogos, frases, adjetivos... e eu que já sou sucinto pra falar acabo me tornando miserável na distribuição de palavras escritas.
Mas isso também tem seu lado bom. Aprende-se a se controlar, eliminar as excrescências, aquelas palavras que não precisam estar ali, que nada acrescentam ao texto. Você acha que o texto está legal, que não existe mais nada a tirar, então experimente enfiá-lo naquela caixinha de 2.000 toques. Não dá! O que fazer? É mandar “pro caixão” aquela observação criativa, aquela frase de efeito, aquele toque que fazia “link” com outros assuntos. Aí então o texto fica magrinho, magrinho, uns dois por cento de lipídios.
Por isso, escritores que iniciaram no jornalismo são mais sucintos, mais concisos, não possuem aquela pachorra de ficar espraiando as idéias, conversa puxa conversa, fluxo de consciência e coisas afins. Por que dizer em 486 páginas o que pode ser dito em 485?
Textos intermináveis somente se explicam na época em que autores de folhetins recebiam o sagrado cachê por linha escrita. Quando os cobradores batiam à porta, era só acrescentar mais umas linhas na obra. Às vezes, por causa de uma gorgeta ao carregador, a mocinha sofria um pouco mais nas mãos do perverso vilão. Acho que foi por aí que inventaram a telenovela.