O Pulguento
Altair estava sentado, tudo o que passou nos últimos três dias lhe rodava a cabeça. O término do casamento, a morte do pai e o sumiço do cachorro. Sem contar o pé doente de tanto bater nas quinas dos móveis. Um criado-mudo aqui, uma mesa de centro ali, uma cadeira acolá e assim por diante.
Como lidar com tantos acontecimentos e dores de uma vez só? Ele que sempre dispôs de uma mente brilhante e sempre com ideias e resultados, sabe de cor a tabela de classificação do campeonato paulista todo ano e a tabela do time desde que se entende por vivo que é gavião de coração; agora se encontra sem saber agir, sem saber o que pensar, está completamente perdido!
Os pincéis de arte que tanto adorava pincelar nas telas estavam duros e estarrecidos. Inutilizados há exatamente quatro meses, período em que seu pai adoeceu e que sua mulher começou a dar sinais de sua partida. O desentendimento dos dois era nítido. Um culpando o outro por algo que nenhum dos dois faziam ou tinham. Os sete anos em que estava casado, infelizmente ou felizmente, sem filhos, somente Pulguento, o cachorro! E olha só o destino, está desaparecido!
Nem mesmo o Pulguento aguentou o clima tão pesado que rondasse naquele lar! Tudo estava dos avessos. Incompleto. Desintegrado. De toda essa tragédia, Altair somente se lamentava por uma: o Pulguento!