O AMADOR, O PROFISSIONAL E O GÊNIO
Adoro escrever, mas sou escritor amador, como a grande maioria daqueles que leio e conheço. Amador é o qualificativo que me parece mais adequado. Afinal, não me preparei desde cedo, não transpirei o necessário e não tenho aquele talento dos maiores. Escritor de verdade é o Érico Veríssimo ou Machado de Assis. Ou o português Eça de Queiroz. Sim, acabei de mencionar gênios da literatura universal, mas poderia exemplificar, aqui no Estado, por exemplo, com Sérgio Faraco, Assis Brasil, Moacir Scliar, Luís Fernando Veríssimo e alguns outros muito bons. Sem qualidade literária, mas de grande magnetismo, penetração e popularidade mundiais, vale exaltar o nosso Paulo Coelho. Queiram ou não, é um “best seller”, por mais que seja vulnerável à crítica. Não curto este mago, mas o povo adora. Por outro lado, ser um profundo conhecedor da língua não transforma ninguém em escritor; do contrário, todos os professores de português seriam célebres e indiscutíveis literatos, o que não é verdade. Para ser um bom pianista, você não precisa ser um Rubinstein ou um Moreira Lima, mas isto não quer dizer que possa programar concertos como se o fosse. Para escrever um livro, o requisito não é ser um literato de primeira grandeza. Até, ao contrário, creio que grande parte das pessoas deveria deixar o seu legado em texto escrito. Até a Bruna Surfistinha fez isto. Há poucos anos, assisti, no Programa Jô Soares, à entrevista de uma bela jovem que lançou um livro de poesias, com várias páginas em branco para que o leitor pudesse registrar suas observações ou coisas do gênero. Ninguém precisa ser gênio para publicar, mas não se pode perder a perspectiva e o senso da realidade, salvo se contar previamente com forte respaldo da mídia – incansável em criar projetos de celebridade e de sucesso. Enfim, escrever é útil e quem gosta de fazê-lo, escreve, os outros que leiam ou que apreciem ou não. Os gênios escrevem enciclopédias aos 15 anos de idade.