Gol na Viatura
Pezão era um sujeito boa praça. Aparecia do nada, altas horas da noite, e chegava em qualquer rodinha de amigos e conseguia animar todo mundo com seus causos mais fantásticos. Alguns deles beiravam o absurdo, como o dia em que narrou a epopéia de um amigo que estava dirigindo uma Brasília e encontrou uma Carreta Bitrem estragada no meio da rodovia. Muito solidário, resolveu ajudar a “rebocar” a carreta e a danada da Brasília conseguiu força suficiente pra trazer a carreta de Campo Belo até o Posto São Vicente. Será verdade? Ele jurava de pé juntos.
Há fatos que foram presenciados por olhos de pessoas que não costumam mentir, como o dia em que Pezão e seu amigo Ferrugem foram ganhar um bico tentando instalar uns cabos de Internet na casa de uma coroa. Os dois não manjavam quase nada do assunto, mas sabiam que a missão era apenas trazer um fio da laje e plugá-lo no computador. Mas havia uma parede no meio do caminho... Sem pensar duas vezes, Pezão correu até a sua casa e trouxe uma furadeira para mostrar pra parede quem é que manda. Ao ver que Pezão não se preocupou nem um pouco com o tamanho da broca, Ferrugem o advertiu que aquilo não daria certo, que ela era grossa demais e que iriam fazer um estrago na parede da mulher. Porém Pezão não se atentava a esses detalhes.
- Vai ser só um furinho, ela nem vai notar - poetizou.
Poucos minutos depois estavam cada um de um lado da parede e Pezão iniciou o martírio da perfuração. Ele pressionava, pressionava, punha mais força, pressionava e nada da parede furar.
- Já apareceu a broca do outro lado Ferrugem?
- Nada.
- E agora?
- Ainda não.
- Agora deu?
- Peraí, ta aparecendo algo na parede.
Quando Ferrugem olhou com mais clareza notou que o buraco estava ficando enorme e vinha seguido de uma trincadura gigante. Os dois tentaram despistar o fato, retirando os pequenos escombros que sujaram o chão da madame e prosseguiram com a instalação da Internet. Tempo depois, a madame senta no computador para sentir a nova velocidade da sua conexão. De cara, já foi para o Megacubo, um site onde é possível assistir vários canais de televisão em tempo real e de graça. A mulher, indecisa, olha os canais sem saber o que assistir. Ela vê um XXX e fala:
- Olha, deve ta passando “Triplo X”, esse filme é muito bacana.
Pezão e Ferrugem olham um para o outro, mas como queriam ver o caos, não contam pra coroa o quê XXX quer dizer na linguagem adulta virtual. Quando ela clicou, não demorou nem dois segundos para ela ver milhares de corpos se enroscando tentando virar um só. Uma tremenda orgia de filmes pornôs. Como os dois se justificaram para ela, deve estar sendo contado em uma Praça espalhada pelo país afora...
Já uma Praça em especial tem uma boa história para contar sobre os pés de Pezão. Conversa vai, conversa vem, começa uma discussão pra ver quem consegue chutar uma bola da arquibancada até dentro do lote vago do outro lado da rua. Desafio aceito.
Pezão era conhecido como o Terror do Futebol. Mas não pelas suas habilidades nos gramados. Sempre que a galera reunia para ver jogos na TV a cabo, lá estava Pezão, com um radinho e fones no ouvido. O atacante entrava na área e o garoto já começava a pular no sofá gritando gol ou “puta que pariu foi pra fora.” Mas sobre futebol, uma habilidade dele deixava todos de cara: a potencia dos seus chutes. Nas três primeiras tentativas ele já conseguiu chegar até na calçada. Outros que tentaram aceitar o desafio não conseguiram passar nem da metade da Praça. Só é importante ressaltar, que já eram cerca de 2h30 da madrugada e ninguém queria ir embora enquanto não visse um feito histórico: o lendário chute de dezenas de jardas sendo realizado na frente dos seus olhos. Pouco tempo depois, ele conseguiu concluir o feito, mas o povo ainda queria mais, queriam ver ele fazer novamente e ainda com mais força no pé!
Pezão preparou um chute daqueles bem potentes e meteu o pé na bola. Inacreditavelmente, contrariando todas as leis da física, todos os presentes viram um carro se aproximando. Chance de acerto da bola no carro: 0,00002%. O carro, que vinha em alta velocidade, foi atingido em cheio no vidro dianteiro. Todo mundo parou e ia dizer “puta que pariu!”, mas antes que o cérebro enviasse o comando para a boca proferir estas palavras, os olhos notaram que o carro se tratava de uma viatura policial. Chance de isso acontecer: 0,00000000001%. Todos ficaram sem fala e só queriam dar um jeito de saírem dali para não serem presos. Imagine a reação dos policiais: você trafegando tranquilamente numa noite de sexta-feira, às 2h42 da manhã, tudo calmo, quando de repente o seu carro é atingido por uma bolada bem forte. Rapidamente, os “homi” desceram da viatura e já queriam tirar satisfação e dava para ver pela expressão facial deles que eles ainda não tinham absorvido o que atingiu o vidro deles e nem a causa do ocorrido.
Com um jeitinho e uma boa lábia, Pezão se desculpou com os caras rapidamente antes que eles falassem algo. Por ser amigo de um dos policiais o jovem foi apenas advertido:
- Parem com a bola. Isso não é hora nem local para jogar futebol. E sumam daqui seus pivetes, vocês deram sorte de não ter quebrado nada no carro.
Sorte que Pezão apenas disse que eles estavam “jogando futebol”. Imagine se ele conta que atravessou a Praça com um chute? Os policiais iam levá-lo para o manicômio e os presentes teriam que testemunhar um feito heróico. Em algum outro lugar do mundo, ele deve estar contando esse caso da bolada para alguma rodinha de amigos e ninguém deve estar acreditando nele, como ninguém acreditou na história da Brasília. Porém, conhecendo Pezão e assistindo uma de suas façanhas, tudo passa a ser a mais pura verdade.