tanto tempo em silêncio que, apesar de gostar desse sossego, por vezes agrada-me ter os olhos e os braços nutridos.
Sabes ?
A casa cheia, muitas vozes, muitos universos, muitos pratos à mesa.
 
E por esses dias eles brotaram.
Mas em um deles, um em especial, sem perceber acabei por colocar um prato a mais sobre a mesa.

Os amigos brindavam, contavam histórias, todos muito animados. Mas entre os sorrisos e os elogios à comida, algo silenciosamente me dispersava : Aquele prato de cerâmica branco, frio e completamente desabitado.

 
Aquele prato, ah aquele prato... Carente de tudo, desprovido de tudo. À espera de não sei bem o quê ou quem. Sim, aquele prato esperava por alguém. Alguém que sentasse à sua frente, se debruçasse, ainda que não para sofrer a sua dor ou fazer parte de sua incompletude, mas simplesmente para fazer-lhe companhia.
 
Ninguém sabe a vergonha que cabe num prato à mesa ; só, fúnebre e oco.  Ninguém o sente ou ouve sua súplica. Mas naquele momento, queria doar-me àquele corpo. Algo em mim precisava acender sobre ele, assim como ele me tocara com sua vastidão.
 
Tantos nomes poderiam estar à sua frente... Ah tantos...!!! Que me faltariam dedos das mãos e dos pés para enumerá-los. Mas enumerá-los seria só uma fuga do prato !
E por instantes, sob desvios, já não pensava mais na solidão do prato.
 
Na verdade, meus olhos agora corriam à cadeira, os talheres, os vãos da mesa, até um vazio cortar-me a voz.

Cansada de desejar, voltei-me ao prato. Aquele prato já não era só um prato, ou só mais um prato, já me era extensão. E sobre sua tela branca, deitei meus sentires todos. Talvez em prece, pedindo por novas cores. Talvez tentando me aconchegar de mansinho em presenças tão verdadeiramente implícitas.
 
Sei que, de alguma forma, queria me deixar quietinha ali... Alinhavada às poesias de um tempo nunca ido de dentro de mim.







 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 08/01/2016
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