Maternidade por mérito

Vez ou outra atendo o celular e falo: “Ôi mãe, tudo bem?” Seu número está gravado na minha agenda com prioridade.

Continua tratando-me como filha, apesar do tempo.

Marieta trabalhou na nossa casa por longo tempo e cuidou-nos com tanto carinho que nunca foi esquecida.

Mulher forte, dedicada, “acalorada” e chorona – estas são as suas principais características e, inegavelmente, uma leoa em termos de proteção.

Eu a amava tanto que, em finais de semana alternados, pedia aos meus pais para tirar a folga com ela. E lá íamos nós para o Monjolo, de ônibus, para a casa de sua mãe, Dona Leonça, hoje com 101 anos.

Eu dormia em uma cama de solteiro com colchão de palha, que proporcionava sonhos gostosos e um amanhecer com muita preguiça.

Lembro-me de que a minha vontade era de “ficar para sempre” naquela cama.

A Marieta nutria por nós um amor incondicional. Todos os dias peleava com a nossa preguiça. Tirava-nos da cama, dava-nos um banho e arrumava-nos para a escola. Arrematava o meu rebelde cabelo com um laço de organdi, na cabeça inundada por sabonete. Nem um fio do meu cabelo ficava fora do lugar. Do laço saíam meus cachos castanho claros. Com o cabelo da minha irmã ela não precisava se esforçar, já que era o cabelo mais lindo que uma criança podia ter.

Dona Noêmia Collar costumava falar que nós éramos as crianças mais engomadas que ela conhecia, graças à Marieta, que até levar uma surra por mim levou (mas é história para outra crônica).

Caprichosa, cuidava da nossa roupa com esmero. Usávamos vestidos na maioria das vezes engomados.

Para o colégio cuidava da roupa e do horário e hoje tenho a mais absoluta certeza de que foi responsável por grande parte da nossa educação.

Meu pai, sempre muito exigente e não raras vezes ranzinza, certa vez resolveu discutir com a nossa protetora. Ela jurou tomar o caminho da casa da sua mãe. Jurou que não ouviria mais tamanhos desaforos e, quando resolveu dar o grito de guerra, sentenciou: “Meu Deus, como ficarão as minhas meninas?”

Acabou ficando e somente saindo quando entrou pela porta principal da igreja para casar-se com o Jadir, o responsável por eu ter me tornado uma chocólatra inveterada. Com ele aprendi a comer muito chocolate. Estratégia utilizada para conseguir umas “folguinhas” no namoro com a amada nos finais de semana.

Gente de coração grande não sai da vida da gente!

(escrita para o livro PROSA NA VARANDA 3 - Grêmio Literário Patrulhense - lançado em 01/12/2015)

Rosalva
Enviado por Rosalva em 04/12/2015
Código do texto: T5469743
Classificação de conteúdo: seguro