ADEUS...MEU UIRAPURU!
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Crônica extraída de meu livro “CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA”, lançado em 1989 e segunda edição em 1990, no Estado do Pará.
Foi publicada originalmente no Jornal “Diário do Amazonas” e reescrita e acrescentada para atender ao momento político atual, cheio de composições vergonhosas em nome de um poder!
(para Francisco Guedes de Queiroz, tribuno e ex-deputado estadual por 26 anos, falecido em 1987, mas nunca esquecido)
Aí está, meu Uirapuru. Acabou. É o fim. O coração, tantas vezes usado em favor do amor e tanto amor que ele conservou ao longo de todos esses anos, te pregou uma peça e parou. Deixou de trabalhar, te levando do nosso meio. Não cantará mais meu Uirapuru e eu me sento à máquina para te dar este até sempre...e ao teu coração imenso que, há vários dias se tinha rebelado contra si, e, como uma frágil flor em um sol forte, ele não resistiu à mania de querer morrer e morreu.
Acabou, meu uirapuru. Deves descansar em paz e não te preocupes com o silêncio do teu canto. A “Tribuna do Povo” não ficará silenciosa e no Tribunal do Júri, onde tantas e tantas vezes sempre surpreendestes até mesmo os teus mais ferrenhos críticos, ninguém mais esquecerá do teu canto. É assim, meu Uirapuru...
Não sei ao certo quem te chamou pela primeira vez de Uirapuru, mas não esqueço as expressões do amigo Arnaldo Carpinteiro Péres elogiando-te a cada vez que terminavas o teu trabalho no Tribunal do Júri. Fostes, és e serás sempre respeitado, admirado e querido. Eras um guerreiro e não fortes derrotadas. A morte é incapaz de matar os verdadeiros homens. Estes resistem ao tempo e são admirados por gerações. Será assim contigo, meu UIrapuru.
Teu canto, ao longo de tua vida, foi escutado nos mais diferentes locais, sempre afinado, sempre justo e não mudavas nem quando subias os degraus do Palácio Rio Negro para, por horas, dias, assumires o Governo do Amazonas. Eras humilde em tudo e, se rancores guardava de alguém, nunca o permitiu que ele se tornasse mesquinho, frio, calculista...É, meu uirapuru, tu eras assim!
Não fui ao teu enterro meu Uirapuru. Prefiro ter-te como vivo e lembrar sempre de tua presença, entrando em todos os locais e cumprimentando a todos como se estivesses em tua casa. Eu prefiro guardar na minha memória o som de tuas palavras sempre com muita firmeza, acreditando na vida e na honestidade dos homens. Não queria ver-te de olhos fechados. Daqui a pouco eu posso estar ao teu lado e também não quero que meus amigos me tenham como morto. Se vivo não posso ser lembrado, morto não quero sê-lo, meu Uirapuru.
Eu espero que teu coração não te tenhas feito sofrer muito e que a tua morte não tenha sido doída. Que tudo tenha sido rápido como eu sempre sonho e desejo para mim. Ah, coração, o que fizestes ao meu Uirapuru; como agora poderei ouvir o seu canto em forma de palavras? Como ficará a “Tribuna do Povo”?
Creio ter sido teu excesso de trabalho e tua confiança na vida e em si mesmo que te tenha levado para cantares no Reino de Deus! Terias vergonha de ver no que se transformou o jogo sujo da política de hoje, cheia de artimanhas, negociatas vergonhosas em nome de uma ambição de poder, de mando de comando, mesmo que não seja o mais correto. Como presidente da ALE do Amazonas, pedistes afastamento do teu cargo para ser apurada uma denúncia, voltastes e, mesmo comprovada a lisura de todo o processo, te recusastes a nomear tua própria filha ao cargo de taquigrafa, deixando para teu vice, Homero de Miranda Leão, o fazê-lo. Ele, José Belo Ferreira, Socorro Dutra, Waldir Barros, Samuel Peixoto, Costa de Aquino e muitos outros, merecem meu total respeito.. Os homens de verdade como tu e outros foram ao longo de suas vidas exemplar,es desapareceram, infelizmente. Hoje, só restam memórias e nada mais! Eras oposição, mas nunca perdestes a ternura e um bom debate de ideias.
Vá em paz, meu uirapuru, meu amigo, cante seu canto alegre aos homens imortais e, meu uirapuru, se voltares a pagar de cantar, mesmo que seja onde estás agora, não me deixes saber. Já foi triste demais eu saber que não mais existia entre nós, meu uirapuru do júri, Francisco Guedes de Queiroz!