ANIK
Era alegre e buliçosa. As pernas esguias não possuiam aquele pelame farto característico da raça, mas isso não a desmerecia em nada; talvez até contribuisse para torná-la mais ágil.
Veio morar conosco quando Marcílio resolveu arranjar uma cadelinha para substituir a Sabrina que, após 12 anos, sucumbiu à idade.
Procurando nos classificados decidimos ir olhar uma ninhada de Schnawzers.Eram cinco todos pretinhos com a pontinha da lingua vermelha á mostra. Umas belezinhas!
Conversa vai, conversa vem, Marcílio e o dono dos cachorros, entre outras afinidades, descobriram-se conterrâneos e, por conta disto, acabamos ganhando a mãe da ninhada com o compromisso de entregarmos um filhote por ocasião da primeira barrigada.
Assim, terminado o período de aleitamento fomos buscar a Anik que nos acompanhou cheia de entusiasmo. Chegando em casa foi percorrê-la de imediato de ponta a ponta, farejando tudo e, prontamente, se acomodou parecendo ter ali morado a vida inteira.
Os Schnawzers são conhecidos como bons caçadores e ela, fazendo jús à fama, logo nos primeiros dias, caçou um rato que depositou no chão da cozinha. Foi a primeira e a única caçada que fez. Nunca mais realizou qualquer outra, e os ratos passeavam livremente no quintal e no jardim sem serem molestados.
Não sei por que escolheu-me para depositária do seu afeto. Era um amor tão grande que chegava a incomodar: não me largava um só instante. Se eu saísse de carro tudo bem, porém se eu saísse a pé postava-se no portão à vista do mundo inteiro ganindo escandalosamente até o meu regresso.
De porte médio tinha uma cor indefinida entre preto e cinza que, no jargão oficial denominam de "sal e pimenta", e possuia lindos olhos castanhos amendoados e pestanudos.
Ao entrar no cio deu trabalho encontrar-lhe um parceiro, já que os machos escasseiam, mas achamos um que veio fazer-lhe a corte durante uma semana. Deu resultado - a ninhada foi de sete! Dos sete morreram quatro e eu tive que cuidar do restante para não levarem a breca.
Fugiu duas vezes. A primeira por causa de uma porta de carro aberta inadvertidamente, e a outra arrebentando a guia e pulando da camionete em movimento. Atráves de anúncios conseguimos recuperá-la em ambas as ocasiões.
Anik esteve em nossa companhia por cerca de dois anos. Creio que foi um período feliz para ela. A nós trouxe-nos momentos de alegria com sua vivacidade e esperteza, e deixou lembranças inesquecíveis dentre as quais, a marca de seus dentes que ainda estão gravados na mesa de centro da sala de estar.