Churrasco gaúcho: originário da cultura negra?
Boa tarde meus 23 fiéis leitores e demais 36 que de quando em vez aparecem por aqui. Vocês fazem churrasco no domingo? E nesse domingo, vão fazer? Domingo vai ser 20 de setembro, data "nacional' da gauchada, comemorativa à Revolução Farroupilha. No Brasil e no resto do mundo ela é chamada de "revolta", mas no Rio Grande o pessoal chama de Revolução.
Aproveitando o ensejo, queria dizer que uma das origens citadas para o churrasco gaúcho tradicional nem se refere ao gentílico histórico denominado gaúcho, mas sim aos escravos negros que trabalhavam nas estâncias. A tese coloca que os estancieiros e seus empregados brancos pegavam as partes nobres do boi e davam o que sobrava, sobretudo as costelas com osso, para os escravos, que as assavam espetadas em varas, fincadas no chão e colocadas ao lado do fogo, que era feito em um buraco, como é a forma mais tradicional e campeira de se fazer churrasco no Sul, a famosa costela assada.
Alguns autores, inclusive tradicionalistas (Paixão Cortes entre eles), informam que somente depois 1935, a partir das comemorações do centenário da Revolução, foi que o churrasco foi efetivado como gastronomia representativa do gaúcho. Antes, era prato considerado "comida de pobre". O fato de o movimento tradicionalista gaúcho ter iniciado nos anos 1940 reforça esse entendimento.
Por outro lado, falando da Revolução e da influência negra na cultura gastronômica tradicional gaúcha, impossível não mencionar Porongos. Ao final da Revolução, um tema era debatido entre Farroupilhas e o Império brasileiro: o que fazer com os escravos aliciados como combatentes pelos Farrapos, os famosos e temidos Lanceiros Negros. Novamente, alguns autores (poderia citar especificamente aqui Juremir Machado da Silva e seu livro História Regional da Infâmia) colocam que na batalha de Porongos, onde os Lanceiros foram surpreendidos pelos imperiais e massacrados, ocorreu uma traição de líderes farrapos não-abolicionistas com o objetivo de se livrar do "problema". Os Lanceiros estariam desarmados no local, por ordem superior, e sua localização teria sido informada às tropas brasileiras. O fato é que, logo após Porongos, as negociações para o Tratado de Ponche Verde evoluíram rapidamente.
Essas discussões são controversas e cheias de versões, mas ao fazer o meu churrasco em família nesse 20 de setembro, vou conversar sobre essas coisas, especificamente sobre essa presumida influencia dos negros na formação do Rio Grande do Sul na gastronomia tradicional e na sua história política. É um bom tema para se conversar, pesquisar e debater nessa época.
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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.
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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Em 2015 talvez eu dê um jeito nisso... Mas acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013.)