SETE DE SETEMBRO
Hoje no desfile do dia sete de setembro tive uma dúvida sobre o significado desse dia para as pessoas que assistiram o desfile como para aquelas que desfilaram. Sou um simples professor e ao ver o cortejo da minha escola identifiquei os alunos analfabetos com quem trabalho. Muitos estavam lá desfilavam e sorriam para as palmas das pessoas. Meus colegas do trabalho orgulhosos pela escola se sentiam como defensores da educação e também sorriam para as pessoas ao passar pelas ruas. Um palanque foi montado para as autoridades presentes e bem em frente à calçada um grupo de manifestantes protestava pela morte de uma criança há exatamente um ano no pronto socorro da cidade; “por falta de atendimento adequado”. Já, outras pessoas com pastas e canetas em mãos pediam para que todos assinassem uma petição para reduzir os salários dos vereadores. Amanhã volto a trabalhar e os meninos e meninas continuarão sem saber ler e escrever, a filha morta não voltará e os vereadores entrarão com uma emenda constitucional à lei orgânica do município, no qual seus subsídios só poderão sofrer intervenção pelos próprios legisladores e não por movimento de inciativa popular. Haverá um dia em que todos os pontos de vista se convergirão? Será esta a democracia pela qual, muitas pessoas lutaram e morreram no período de chumbo do país? Ou ainda, aproximadamente quarenta anos do regime democrático não é o suficiente para saber exigir direitos? Nascer no Brasil protegido pela Constituição é para poucos, visto que analfabeto dentro da escola, vereador ganhando mais que professor e médico de outro país para atender a população não constam em nenhum artigo da nossa Lei máxima. Hoje recebi o maior tapa na cara da minha vida, quando um desses meus alunos ao me reconhecer perguntou se estava gostando do desfile.