Pedaços de papel molhados com lágrimas
Guardei durante muito tempo todas as lembraças do meu primeiro amor. Os bilhetes feitos delicademente; cartas que mesmo com o passar do tempo mantiveram-se impregnadas com o perfume dela; cartões comemorativos com pequenas dedicatórias e muito mais. Guardei até ontem, mas percebi que estavam me fazendo mal.
Foram muitos dias juntos, muitas lembranças e momentos memoráveis. Mas esses papéis me prendiam, me acorrentava em algo que já não vive mais, já era pra ter sido enterrado há tempos, mas mantive-os me atormentando durante todo esse tempo.
Juntei cada parte desse passado e o rasguei em pedaços. Desfragmentei algo que já não tinha mais vida alguma. No instante doeu, cada pedacinho partido se preencheu com uma gota de minhas lágrimas, afinal, não é fácil rasgar um pedaço de ti, mesmo que esse pedaço já não tenha mais vida, mesmo que seja só um peso nas tuas costas, dói tira-lo de ti. E doeu.
Vi aqueles pedaços molhados com lágrimas e em instantes passou um filme em minha mente, me fazendo lembrar que a felicidade não é algo que conseguimos guardar em recipientes, muito menos em papéis frágeis.
Sinto-me tão mais leve agora com essa decisão. Tirei de minha consciência um peso enorme que já era pra ter esquecido há tempos.
Agora posso preencher esse espaço que ficou com bons momentos, com novas histórias. Espaços e não vazio, pois o espaço deixado não arremete à solidão que o vazio proporciona, mas sim à liberdade de optar por novos preenchimentos, por novos momentos.