AS MÁSCARAS DA VIOLÊNCIA

Se a violência não tem uma morada fixa, também não são reconhecíveis facilmente, as suas muitas faces. Quem pode dizer que por trás de um belo sorriso amigo não esteja embutido um ato de injustiça?

O amor de mãe, que retém o filho junto a si, com a intenção de protegê-lo dos perigos do mundo, enquanto ele já se sente capaz de buscar novos horizontes ou aquela mão que bate querendo educar, não abusa do seu poder?

E aquele amor imposto, que nos implora atenção, buscando a nossa constante dedicação, não nos constrange?

A sociedade que impõe regras, tentando moldar-nos conforme os interesses de alguns, não poupando de ataques pessoais àqueles que não seguem a sua cartilha, não aprisiona?

A igreja que prega um Deus nem sempre justo, enquanto ameaça os “pecadores” que não aceitam as suas doutrinas, não está intimidando?

Na realidade, a violência não tem apenas a cara da arma que dispara contra o indefeso nas mãos do marginal desconhecido. Ou o aspecto de quem viola a privacidade alheia, o corpo do indefeso ou inocente. Não tem só os traços do irresponsável que dirige inconsciente. Ou daquele que invade as nossas propriedades e nos faz reféns. O uso da força, o constrangimento físico ou moral, esta inserido nas nossas melhores intenções, nos nossos sentimentos, aparentemente, mais honestos.

A violência tem muitas vozes, muitas mãos e muitas faces, reveladas de muitas formas, desde a agressão física ou moral, até a aparente ternura do gesto que nos faz prisioneiros de sentimentos altamente egoístas. Ela tem a cara da liberdade perdida, consentida ou não, roubada ou entregue espontaneamente para alguém que usou de poder sobre nós.

Na verdade, convivemos diariamente com a violência, mas só nos unimos contra ela quando não a vemos sob disfarces. E todos nós, de certa forma exercemos o poder que temos sobre os outros, suavemente...