A Casa
A CASA
Era uma dessas noites em que a lua preguiçosamente percorre o céu, e passeando na abóbada celeste em meio as estrelas dá ao céu a aparência de diamantes incrustados brilhando na escuridão.
Em sua cama bem aconchegada nosso personagem mergulhado nos braços de Orfeu, dorme e sonha os sonhos dos infantes. Neste mundo onírico, onde tudo é possível, as coisas acontecem sem que tenhamos muita participação de tais fatos, assim as coisas e fatos acontecem numa dimensão atemporal, onde verdade e ilusão se fundem nos deixando as vezes sem saber no que acreditar. Nosso personagem encontra-se sentado embaixo de uma frondosa árvore quando aproxima um senhor de mais ou menos sessentas anos, sua aparência serena e tranqüila dá a idéia de ser um desses iluminados que sabe colocar as suas palavras em função de nosso bem estar e de nossa vida.
Aproxima-se e diz:
-Gostarias de conhecer uma casa no sopé da montanha?
-Sim, gostaria, respondeu nosso personagem!
- Acompanhas-me...
- Veja esta é a casa, observas atentamente todos os detalhes dela.
A fachada da casa apresentava-se descorada, as paredes desbotadas pela ação do sol, a janela apresentava-se com as vidraças quebradas ou embaçadas, onde mal se via o interior da casa.
A sala com um grande sofá escorado na parede, onde se via o tecido marcado pela ação do tempo, a mesa de centro com o tampo quebrado, as paredes da imensa sala quadros dependurados onde se observava a pinturas tristes e acinzentadas. Ao chegarem a cozinha, encontraram o fogão, tomado pela gordura, as vasilhas por sobre a pia amontoada, as panela pretas pela ação do carvão que via sendo impregnado dia a dia. A geladeira acomodava uma garrafa de água, seu congelador tinha grandes blocos de gelo, que forçava a portinhola a ficar semi-aberta. Foram em direção ao quarto do casal, uma cama com os lençóis e cobertores espalhados por sobre ela demarcavam que não tinham preocupação com o aconchego que o leito lhes favorecia. O quarto mais parecia uma cela de penitenciaria tal era a atmosfera que transparecia. O guarda roupas com as portas escancaradas mostravam, roupas, embora limpas jogadas em seu interior onde os cabides estavam nus.
O anfitrião convidou nosso personagem para um cantinho em especial naquela casa e disse lhe:
- Veja este lugar, aqui onde está o centro de força e comunhão com o céu e aqui onde os moradores dessa casa rezam.
- Um altar onde imagens bem dispostas se juntavam harmoniosamente irradiava uma serenidade e uma paz para aquela desarrumada casa.
- O anfitrião volta-se para o nosso personagem e lhe pergunta:
- Conheces esta casa, ela não lhe parece familiar?
- Perdido ante esta interrogativa, nosso personagem fica calado.
-Então o anfitrião verbaliza:
- Esta casa meu amigo é o seu interior, sua vida...