Os Smarts no Planeta Tera
Um dia marquei com amigos para irmos a um bar legal.
Para curtir e comemorar o encontro de amigos que há tempos
não se viam.
É natural da vida perder contato, e hoje o engraçado é que
uma pessoa tem vários meios de ser contactada e ainda não conseguimos nos
relacionar com todas e principalmente as que fizeram parte
da nossa vida, dos mais próximos. Amigos de escola, tios, primos
vizinhos, pais, mães e avós essas pessoas ficam às vezes anos sem
um telefonema um post nosso. E dessas pessoas tão importantes
às vezes só ouvimos falar por alto, mas estamos tão apressados em
nossos posts com nossos amigos virtuais tão legais que deixamos aqueles
que fizeram nossa vida viva para depois e bem depois.
Sabe porque é tão legal ter amigos virtuais? Porque eles não
te incomodam, ouse dizer o que pensa sobre alguma foto "demais"
que todos os outros curtiram, fala que não ficou bem que não gostou.
Fale para um amigo virtual -Eu te odeio! Você não é nada para mim!
Você é bloqueado da vida virtual daquela pessoa com quem você trocava
posts há anos e se diziam amigos de infância, às vezes até se encontraram,
ou ficaram pessoalmente. Amigo virtual não discute, concorda. E se você criar
um outro perfil e continuar tentando falar, mesmo que seja pedindo desculpas,
ele pode além de bloqueá-lo novamente te denunciar para os moderadores da
rede social e você pode sofrer um processo judicial real.
Voltando às frases ofensivas quantos pais, mães, tios, avós, filhos, netos, primos, amigos ouviram isso
ali, na lata sem cortes ao vivo -Você não importa para mim.
Nesse caso acho que preferiria um post.
Eu não sou santo, me condeno nestas frases e quando as disse achei que tinha toda
a razão, mas quando as ouvi eu vi o quanto dói, no meu caso era um namoro de 5 anos que terminava.
Com certeza nos meus pais, irmãos, e amigos verdadeiros doeu mais.
E naquele dia que saímos juntos, aquele que iniciei este post, eu usei o celular para
chamar a Bia para o bar de sempre e ela falou vou dar um toque no João ele está na cidade
e com certeza vai. Eu falei com a Mary e ela topou na hora postou -Tô louca pra dançar e curtir com vocês!
Quando cheguei não havia ninguém assentei e pedi um chopp, e nada, nem no cel.
Chamei a Bia e a Mary - Nada!- Aí chegou um cara parrudo barbudão e me olhou mas assentou em outra mesa.
Detesto esperar e já havia meia hora e estava no terceiro chopp.
Aí chega a Mary louca beijando abraçando, você está demais e bate uma foto de mim e do Tony que veio com ela
de brinde. Fomos para rede, a Bia curtiu e o João me adicionou como amigo. -Postei onde estão?
Chegando - disseram.
Quando Bia e João chegaram foi uma farra todos se abraçaram, várias fotos e vários posts. E fomos para a
pista dançar a Bia ficou na mesa porque era aniversário da mãe e estavam combinando de fazer a festa no fim de semana
na casa dela.
O João grudou na Mary namoro de adolescência e se abraçaram eu e Tony começamos a zoar e falamos - Vocês vão nos deixar
sozinhos? Quando beijaram voltamos para a mesa. A Bia telefonando para a mãe gritando por causa do barulho e falou que ligava
depois. Perguntei para a Bia se não queria dançar - Ela disse -Não. Como sempre porque não curte. E quando vimos o Tony estava
conferindo o messenger, não era nada, mas ele teve que conferir pois poderia ser um colega de trabalho, ele estava de sobreaviso
então não ia beber.
E quando fomos embora, muitos posts com muitos risos, piadas, zoações, risos e abraços depois eu percebi que haviam mesas em que ninguém falava
só teclava, pensei - Será que essa geração nova posta, mesmo frente a frente, para manter o segredo, o sigilo - Será que estes posts
não revelam a solidão que estamos sentindo mesmo hiper-conectados?
Pega bem a fantástica oportunidade de teclar e conversar com pessoas de diversas culturas que não conheceríamos no meio normal, sem os posts e as redes sociais,
mas tudo tem seu limite.
Então me arrepiei quando lembrei da minha mãe sozinha em casa que mal sabe usar o celular e sempre fica preocupada comigo e aflita porque
não chego e sempre brigo com ela por me tratar como uma criança. Criança, um cara falou para deixar vir as crianças para sermos
como crianças. E lembrei como era gostoso e acolhedor o abraço, o colo da minha mãe e hoje brigamos por me tratar como criança.
Neste dia cheguei e ela me recebeu como sempre eu disse: - Tudo bem, mãe! E ela: - Deus te abençoe meu filho e dei um beijo em sua testa, e a abracei
como uma criança senti tudo de bom e gratidão que jamais poderei pagar a não ser com minha presença física, meus beijos, abraços e risos e piadas e festas.
Ah! Como queremos um, e como precisamos de um, todos os dias. E um de cada um que amamos são vários abraços e às vezes com beijos.
Ah! como inventamos desculpa, como crianças, para recebê-los. Fazemos festas, aniversários, debutantes, casamentos, batizados, batismos,
páscoa, natal, reveillon, e carnaval e tudo isso com muita gente que gosta da gente ou não e com muitos e muitos posts, vaaaaaaaaarios
por segundo e isso é legal, bacana, divertido, fantástico, todos compartilhando a vida, a própria vida com todos os amigos das redes sociais.
Mas sabe o que percebi no abraço que não dava há tempos nela? Celular não abraça, celular não beija, celular não tem cheiro de mãe e ainda
os chamamos de Smartphones, smarts? Talvez essa seja a palavra que defina essa geração em um paradoxo que não previmos enquanto inventávamos
o futuro. Porque os Smarts não conversam, não abraçam, estão sempre teclando com um olhar fixo e solitário seja em reunião de família, escola, seja sozinhos
no quarto escuro, no ônibus, nas praças, nos parques e pasmem posts até no chuveiro e debaixo d'água com os smartphones à prova d'agua, haja água e
coordenação para se ensaboar enquanto o smart posta uma foto se ensaboando. Esperávamos dessa geração algo incrível e inacreditável que ela nos superasse e
os smarts estão nos superando na solidão.
EU NÃO VIVO NO PLANETA TERA OS SMARTS SIM.
A Internet é um presente e como todo presente precisamos aprender a usá-lo para ligar as pessoas com o real e como todo presente não dá para brincar nem o tempo todo
com o mesmo presente, e é chato brincar sozinho.
Nós criamos o Futuro agora temos que reconstruir os presentes.