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Quinta-feira, 23/7/2015
Envelhecendo com prazer?
Antonio Feitosa dos Santos
Fotos: Feitosa dos Santos
Outro dia presenciei um bate papo, entre duas pessoas que falavam sobre o envelhecimento. Num dado instante ouço a seguinte pérola: — estou envelhecendo com saúde e isto para mim é um prazer. E de imediato me perguntei: - há como envelhecer com prazer? Sinceramente não consigo vislumbrar como.
É uma benção quando se envelhece sem doenças: dores, tonteiras, campo visual restrito entre outras tantas; dai a sentir prazer vai uma grande distância.
A metamorfose sofrida pelo homem ao envelhecer é peculiar à pessoa humana. Nenhum outro animal, que eu saiba, sofre tamanha transformação de pele, de força, de vigor, aparência entre outras mais.
O homem precisa reinventar-se para trilhar as veredas da velhice. Quem nunca tomou remédios, passa a tomar aos montes, incentivado por propagandas laboratoriais enganosas, com promessas para rejuvenescer, ao final lá se vai o pequeno valor da aposentadoria do idoso.
Quem nunca "malhou", passa a malhar em academias ou ao ar livre, beneficiados por programas de governos municipais, estaduais e federal, patrocinados com o dinheiro dos nossos impostos, ainda bem, pelo menos isso.
O idoso precisa rever o local aonde mora, melhorar o ambiente interno, jogar moveis fora, alargar portas, suprimir escadas, rebaixar os armários, retirar os tapetes, evitar aparelhos cortantes e por ai vai.
Que prazer há em tudo isso? Alguém está blefando ou eu não consigo alcançar a essência prazerosa de se envelhecer.
Qual é o prazer de não se degustar uma deliciosa feijoada? Que prazer há em não comer uma maravilhosa fatia de pudim de leite condensado? Que prazer se pode ter em não curtir uma maravilhosa praia ao final de semana, após cinco dias de exaustivo trabalho?
Você não pode fazer isso ou aquilo; é preciso fazer isso ou aquilo, não pode comer esta ou aquela comida, precisa tomar chá e não café, não pode tomar cerveja, pode tomar um pequeno cálice de vinho tinto seco, cuidado com o seu diabetes. Pelo amor de Deus, dá um tempo, larga do meu pé. Se isto é prazer é preferível não tê-lo.
Acredito, eu, não haver ninguém em sã consciência, que tenha o prazer em envelhecer, por assim ser, eu não teria observado — mascas de bisturi - naquela face esticada e brilhante.
Palavras, simplesmente palavras, a boca diz o que o cérebro não sente.
Chego a sugerir a mim mesmo, já que inicio o caminho nesse sentido, de não querer envelhecer jamais, ficando tão somente, menos jovem a cada dia que passe.
Assim fica o meu apelo a todos os postulantes do envelhecimento prazeroso, quem tiver a tal receita do envelhecimento com prazer, por favor, guarde-a para si, para mim ela é uma tremenda furada.
Rio, 15/05/2011
Feitosa dos Santos
Quinta-feira, 23/7/2015
Envelhecendo com prazer?
Antonio Feitosa dos Santos
Fotos: Feitosa dos Santos
Outro dia presenciei um bate papo, entre duas pessoas que falavam sobre o envelhecimento. Num dado instante ouço a seguinte pérola: — estou envelhecendo com saúde e isto para mim é um prazer. E de imediato me perguntei: - há como envelhecer com prazer? Sinceramente não consigo vislumbrar como.
É uma benção quando se envelhece sem doenças: dores, tonteiras, campo visual restrito entre outras tantas; dai a sentir prazer vai uma grande distância.
A metamorfose sofrida pelo homem ao envelhecer é peculiar à pessoa humana. Nenhum outro animal, que eu saiba, sofre tamanha transformação de pele, de força, de vigor, aparência entre outras mais.
O homem precisa reinventar-se para trilhar as veredas da velhice. Quem nunca tomou remédios, passa a tomar aos montes, incentivado por propagandas laboratoriais enganosas, com promessas para rejuvenescer, ao final lá se vai o pequeno valor da aposentadoria do idoso.
Quem nunca "malhou", passa a malhar em academias ou ao ar livre, beneficiados por programas de governos municipais, estaduais e federal, patrocinados com o dinheiro dos nossos impostos, ainda bem, pelo menos isso.
O idoso precisa rever o local aonde mora, melhorar o ambiente interno, jogar moveis fora, alargar portas, suprimir escadas, rebaixar os armários, retirar os tapetes, evitar aparelhos cortantes e por ai vai.
Que prazer há em tudo isso? Alguém está blefando ou eu não consigo alcançar a essência prazerosa de se envelhecer.
Qual é o prazer de não se degustar uma deliciosa feijoada? Que prazer há em não comer uma maravilhosa fatia de pudim de leite condensado? Que prazer se pode ter em não curtir uma maravilhosa praia ao final de semana, após cinco dias de exaustivo trabalho?
Você não pode fazer isso ou aquilo; é preciso fazer isso ou aquilo, não pode comer esta ou aquela comida, precisa tomar chá e não café, não pode tomar cerveja, pode tomar um pequeno cálice de vinho tinto seco, cuidado com o seu diabetes. Pelo amor de Deus, dá um tempo, larga do meu pé. Se isto é prazer é preferível não tê-lo.
Acredito, eu, não haver ninguém em sã consciência, que tenha o prazer em envelhecer, por assim ser, eu não teria observado — mascas de bisturi - naquela face esticada e brilhante.
Palavras, simplesmente palavras, a boca diz o que o cérebro não sente.
Chego a sugerir a mim mesmo, já que inicio o caminho nesse sentido, de não querer envelhecer jamais, ficando tão somente, menos jovem a cada dia que passe.
Assim fica o meu apelo a todos os postulantes do envelhecimento prazeroso, quem tiver a tal receita do envelhecimento com prazer, por favor, guarde-a para si, para mim ela é uma tremenda furada.
Rio, 15/05/2011
Feitosa dos Santos