FRAGRÂNCIA DO AMANHECER NO CAMPO
FRAGRÂNCIA DO AMANHECER NO CAMPO.
Não há expressão mais bela e confortante qual o amanhecer no campo. Outrora, o despertar era mais puro e autêntico em relação aos tempos modernos. A população da terra era menor e a vida se envolvia mais com os benefícios da natureza do que da técnica que veio maltratá-la com o nome de progresso. O progresso, por certo, aproximou sobremaneira os povos, antes confinados em determinadas regiões rendendo homenagens aos costumes das respectivas tradições.
A aproximação dos povos, contudo, despertou fortemente os sentimentos egoístas de poder, de riqueza e de desprezo às agruras do próximo. Povos que, antes, aceitavam certas situações duradouras, com o avanço tecnológico, de modo geral, não mais as desejavam, visto que foram relegadas ao que se denominou passado morto.
É verdade que mudanças alteram modelos; a conduta humana, como modelo, conforme certas ocorrências de momentos, sofre alteração para aprimoramento ou para degradação; tudo depende da liberdade de escolha e de aceitação, sem resistência.
O filho, por exemplo, que é presenteado pelo pai com um carro novo, o aceita feliz, mormente pelo fato de não mais depender da ajuda paterna para se transportar de um lugar a outro, com sensação de liberdade diante da velocidade. Não se duvida da verdade desse pensar, entretanto também é verdadeira a possibilidade de acidente por causas diversas, desde as de ordem pessoal até as de natureza externa. É o preço do progresso dupla face: facilidade de transporte e arma mortal a ceifar vidas.
Todo progresso, sob a ótima material, é considerado fonte de avanço da humanidade porque facilita, sem muito esforço, a satisfação de necessidades, de vontades, de almejos. Enfim, é a eficácia da lei do menor esforço, regra essa que, sob a ótica da espiritualidade, contraria princípio inexorável e Divino, qual seja a lei da evolução moral do espírito, em se considerando sua natureza imortal, contrária à natureza mortal da composição orgânica e biológica do ser humano.
Por causa das razões aqui expendidas encontro resposta que me permite afirmar o seguinte: Quanto mais se avança na idade do corpo humano, em especial após passados cinquenta anos, mais se busca proximidade do passado, mas daquele passado que lembra a expressão mais bela e confortante: o amanhecer no campo.
Naquele passado havia esperança, confiança, estímulo e solidariedade humana, porquanto as disputas humanas, egoístas, ainda não eram destaque na minha mente.
Naquele passado no qual eu tinha a coragem de afirmar a existência de Deus, sem sentimento de vergonha junto a todos aqueles com quem eu convivia e que, ao ser ouvida a afirmação, não faziam graça, piadas ou críticas a respeito.
Naquele passado em que se rejeitava a ideia de riqueza obtida por vias tortuosas, cujas curvas malditas são esconderijos que escondem as curvas anteriores e tapumes que impedem a mostra das curvas posteriores, em regra mais perigosas por quem trafega nessa estrada do progresso.
Naquele passado em que se depositava plena confiança na família, uma vez que esta depositava confiança no grupo social, o qual depositava confiança nos governantes, visto como vigorava a certeza de que estes eram agradecidos a Deus pela oportunidade de governar para o bem comum e na sua Divindade depositam confiança.
Uma vez que reminiscências são fragrâncias ao sabor dos ventos, o amanhecer no campo já não mais traz o perfume do passado. A falta do perfume esconde a beleza real da vida; no entanto, algo remanesce para nossa felicidade: a natureza se transforma, de sorte que em sendo o homem parte da natureza, também se transforma pelo fenômeno conhecido por morte. Felizmente, não há ocorrência desse fenômeno em relação ao espírito, já que este é imortal e, na senda evolutiva do caminhar, espiritualmente todo o amanhecer é a expressão mais bela de Deus.