GOSTOSAS MEMÓRIAS...!
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Como se fosse um cachorro na porta da igreja esperando para ela ser aberta pelo padre, a porta de vidro do “Memorial desembargador Joaquim Paulino Gomes”, se abriu e, na sua frente uma placa informando “Estamos em Greve”, entrei, visitei e fui muito bem recepcionado por um rapaz sentado a quem perguntei: “Leio aqui que vocês estão greve! Posso entrar?”. “Entre, porque só 30% está em greve, mas estamos atendendo”. Entrei e vi fotos, pessoas com as quais convivi pessoalmente durante, pelo menos, sete anos como jornalista credenciado do Jornal A NOTÍCIA, junto ao Tribunal de Justiça do Amazonas. Montado no prédio do Tribunal Regional Eleitoral, em cujo local compareci levado pela minha esposa Yara Queiroz para fazer o recadastramento biométrico, entrei, olhei as fotos na parede e relembrei fatos antigos de minhas andanças pelos corredores do TJ-Am.
Na parte superior e inferior e aos fundos do prédio histórico, um anexo construído sem seguir a mesma arquitetura histórica do passado, funcionavam as Varas Cíveis e uma ao lado da outra. As poucas Varas funcionavam juntas, que também reunia juízes e desembargadores, na Avenida Eduardo Ribeiro, ladeados em frente pelo majestoso Teatro Amazonas. Os desembargadores ficavam na parte superior do prédio e todos subiam por uma escada de madeira. Lembro o dia em que o juiz Gaspar Catunda de Souza, que assinava “G. Catunda de Souza” foi escolhido em lista tríplice pelo governador José Lindoso para ser o mais novo desembargador do Estado e fui designado para escrever sobre a posse. Ao voltar à redação no Distrito Industrial, Andrade Neto me disse: “era um juiz sério e pode ser que o Tribunal agora melhore um pouco”.
Outras Varas Cíveis e Criminais funcionavam no corredor central do prédio principal. Ao final, um corredor ligava direto à sede da Ordem dos Advogados do Brasil, então presidida pelo competente advogado José Paiva de Souza Filho, o “Paivinha”, como quase todos o chamavam, devido sua baixa estatura e grande capacidade de articulação com seu amigo presidente do Conselho Federal da Ordem. Naquela, época, não havia exame de ordem, mas o bacharel em direito tinha que comprovar dois anos de prática forense, anexando documentos expedidos por advogados regulares e certidões emitidas pelas Vagas ao seu pedido de inscrição, para ser considerado advogado. Depois de analisado o processo e checada toda a documentação do requerente, por comissão de advogados nomeados, recebiam a Carteira da OAB e era considerado advogado. Antes dessa análise eram chamados apenas de bacharéis em direito, como hoje também o são.
No segundo andar do prédio da Eduardo Ribeiro, também no final dele, do lado esquerdo, acima da sede da OAB, funcionava o Tribunal do Juri, dirigido pelo então juiz Arnaldo Carpinteiro Péres. Gostava de cobrir julgamentos do Júri e admirava os embates entre o então promotor de Justiça do Amazonas e hoje desembargador do Tribunal de Justiça de Roraima, Lupercino de Sá Nogueira, o mais aguerrido que vi atuando em processos memoráveis como o “Crime do Solar do Olímpia”, onde hoje funciona a Ambev, “Varadouro da Morte” e muitos outros. Gostava de assistir os embates entre o promotor Lupercino e advogados de defesa Francisco Guedes de Queiroz, Armando Freitas, Raimundo Silva, que chamei em matéria que escrevi de “desconhecido, mas competente orador do Tribunal do Júri”, em sua estreia e muitos outros que o tempo e a memória me fizeram esquecer. Ficamos amigos! Raimundo Silva, foi juiz do Trabalho em Tabatinga e outros locais. Aposentado, se radicou em sua terra se elegeu vereador e hoje é presidente da Câmara Municipal de Itacoatiara. Quando o promotor e os advogados se embatiam nos julgamentos, todos queriam saber o resultado dos julgamentos no dia seguinte. Um dia, o presidente do Juri, percebendo que o público estava se ausentado do plenário, decidiu reunir alguns jornalistas e rejulgar o processo do “Monstro do Planeta dos Macacos”, que estuprara uma criança e a jogara seu corpo em um poço no então bairro “Planetas dos Macacos”, hoje bairro da Redenção. No primeiro julgamento, o acusado pegara 21 anos de prisão. No segundo, pegou 22 anos.
Reuniu os jornalistas Altair Rodrigues, de A Crítica, a mim pela A NOTÍCIA e Francisco Pacífico, do Jornal do Comércio, os três jornais que existiam na época e funcionavam diariamente e pediu-nos para acertamos com o então famoso advogado do passado Milton Assensi, para voltar ao Tribunal do Juri para defender o “Monstro do Planeta dos Macacos” e pediu que prometêssemos que divulgaríamos tudo que ele fizesse. Convidado a voltar ao júri, o advogado famoso pelos embates que fizera no seu passado de glória, aceitou e divulgamos, a visita dele ao presídio para garantir ao réu que ele seria absolvido, se fosse a um novo júri. Mas contra o promotor Lupecino de Sá Nogueira era quase impossível ganhar algum julgamento e o “Monstro do Planeta dos Macacos”, foi condenado a 22 anos de prisão.
Vendo as fotos, me surpreendi com o nome de Hamilton Botelho Mourão ter presidido o Tribunal de Justiça do Amazonas. Convivi com ele como reitor da Fundação Universidade do Amazonas, na mesma década de 80, porque também era credenciado junto à Reitoria e outros locais também, mas não sabia que ele tinha presidido o TJ-Am porque o conheci apenas como “professor Hamilton Mourão”, tendo como seu chefe de Gabinete o advogado Ivo Paes Barreto. Comentei com a pessoa muito simpática que conversou muito comigo e ouviu as bobagens que dizia sobre o passado e minha convivência com muitos desembargadores – Paulo Jacob, Raimundo Santos, Lafayete Vieira, Paulino Gomes, Azarias Menescal de Vasconcelos e outros com os quais vivi e convivi. Como a bibliotecária não se encontrava no momento deixei o número de meu celular e ela me ligou depois. Na Avenida Paraíba e hoje Jornalista Umberto Calderaro Filho, um terreno pantanoso estava sendo aterrado para ser construída a nova sede da OAB, com o integral apoio e ajuda, inclusive financeira do Conselho Federal da OAB, presidido pelo amazonense J. Bernardo Cabral. A sede da OAB funcionava de forma precária e precisava crescer. E cresceu muito! Com Marilza, a bibliotecária, mantive uma conversa de 6 minutos.
Ela quis saber se ainda fazia palestras e lhe respondi que “não mais porque esqueço mais rápido do que consigo lembrar, sou disperso e gaguejo muito”. Ela me disse: “não notei nada disso”. Eu lhe disse de novo: “mas deu para você perceber que quis lhe dizer alguns nomes de pessoas, mas não conseguia e depois lembrava”. Ao final da conversa, lhe pedi para me enviasse o que tivesse sobre o patrono do Memorial, ela me respondeu “temos poucas coisas sobre ele”, mas considero isso normal. E por que considero quase normal esse fato? Porque a coisa mais difícil que existe é alguém ter algo para contar sobre quem seja o patrono de uma rua, praça, conjunto, centro médico, escola etc.
Mas a viagem no tempo foi maravilhosa porque relembrar é viver duas vezes e tudo de novo, só que não da mesma forma, o mesmo tempo e na na mesma intensidade de antes!