MUDANÇA DE PARADIGMA...
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A ex-aluna de SS Ana Paula Sabelli.
Admito que fiz um juízo errado sobre quem senta nas últimas carteiras escolares. Tinha a ideia que seria apenas para fazer bagunça, colar ou não prestar atenção ao que o professor estava explicando, porque era isso que fazia com meus colegas do Colégio Estadual, onde cursei o 1o ano do antigo segundo grau e depois com os do Instituto de Educação do Amazonas, onde conclui o curso de magistério de 1o a 4' séries. Sentavam nas últimas carteiras só para colar e bagunçar. Mas a aluna do curso de Serviço Social, Ana Paula Sabelli me provou ao contrário na prática. Estive sempre errado e admito: ela foi uma das melhores alunas que tive e sempre sentava nas últimas carteiras na Faculdade, ficava quieta só para melhor prestar atenção às aulas que ministrava em várias turmas da Faculdade particular.
Como aluno, do primário aos dois cursos superiores na Faculdade, sempre sentei nas primeiras carteiras da sala de aula porque desejava prestar bastante atenção às aulas e observar os professores porque também era um professor, mas quando estava cansado ou não gostava da matéria, ia para o fundo da sala para dormir ou bagunçar, interrompendo a aula várias vezes com perguntas sem propósito. Mas, ao contrário do que escreveu o escritor natalense Eduardo Grosson, em seu excelente livro “Crônicas da Família Gosson,” - “eu não sabia que doía tanto” - não sabia que seria tão fácil mudar e em nada me doeu mudar de pensamento. Mas há exceções, mas não foi o caso da aluna que só tirava sempre as melhores notas de sua turma.
E por que marcou tanto essa mudança de paradigma, tão ela importante para mim? Não era só porque beleza que tinha uma beleza diferente, mas principalmente por sempre se sentar nas últimas carteiras e assistir as explicações excessivamente concentrada e, confesso, conclui que na minha primeira avaliação, que fizesse a aluna seria um desastre, porque tinha a certeza de “quem senta na última carteira ou é para dormir, ou porque não tem paciência para me ouvir ou porque não quer prestar atenção ao que digo”. Isso eu fizera muitas vezes como aluno, do primário à Faculdade e também fazia no curso de Serviço Social. Quando estava cansado, me sentava na última carteira em canto da sala, me escorava na parede e dormia tranquilo a aula toda, principalmente nas matérias que não gostava muito, que eram muito poucas. Quando alguma coisa me interessava, fazia perguntas, mas nem sempre!
Com a primeira prova, a nota da aluna me surpreendeu e eu custei a acreditar: tirou dez. Na segunda avaliação, um outro dez e na terceira, 9,5. Tive que mudar completamente o que pensava sobre a Ana Paula Sabelli: sentava no fundo da sala e pouca coisa perguntava seria uma estratégia para ficar mais concentrada? Não sei, mas percebia que anotava tudo o que dizia porque de todos os meus quase 60 anos na sala, foi a única que alcançou a nota máxima: 10. Os outros colegas, entre homens e mulheres, ficaram no máximo entre as médias de 5 a 8 e ninguém alcançou a nota máxima. Era muito rigoroso nas correções das avaliações e dificilmente atribuía dez a algum aluno. Mas foi surpreendido positivamente pela aluna porque não errou nada! Procurava encontrar um erro e não achava. Na segunda avaliação, me surpreendi de novo com a nota que alcançou: novo dez. Mesmo tendo nota para passar por média, fez a terceira prova e lhe atribui nota 9,5 porque ela se confundira em uma resposta. Ela era quase perfeita. Parecia que gravava as aulas e na hora as ouvia para responder, com perfeição!
Depois dessa demonstração de competência, pensei comigo mesmo: “essa moça, ao se formar, será uma excelente profissional”. Mas não sei se terminou ou mudou de curso. Ela teria grande futuro. Depois disso, passei a ter um conceito diferente de quem sentar atrás, nas últimas carteiras e conclui que minha primeira tese estava totalmente errada: sentar nas últimas carteiras e não na “na turma do gargarejo”, nas primeiras carteiras, perguntar demais, talvez Ana Paula Sabelli não desejasse participar da muvuca e se concentrava mais no que explicava e sem fazer perguntas, sentada sempre nas últimas carteiras em uma turma de 60 alunos.
Como não ministrava um só tipo de aula, mas em cada turma era um tipo diferente e um tema diferente, de metodologia do ensino superior à ciência política, passando por projetos de pesquisa e outras mais que o tempo e as onze cirurgias que sofri no cérebro até hoje desde 2006, me fizeram esquecer, não lembro mais qual era a disciplina que aluna cursava em minha sala. Hoje, acordei, lembrei do nome de Ana Paula Sabelli e decidi procurá-la no facebook, mas só achei uma e não era ela porque morava em um país de língua espanhola, mas decidi lhe pedir amizade. Hoje, esquecendo mais do que lembrando, tenho que lembrar de um nome e logo procurá-lo porque depois volto a esquecê-lo de novo. Até em minhas redes sociais, pessoas com quem costumo falar quase todos os dias, eu muitas vezes esqueço de seus nomes.
Mudar de opinião ou paradigma não é feio. Feio é não mudar com medo de admitir com medo de continuar insistindo em uma coisa que está errada, só porque aparentar ter autoridade.