Relembrando Wanderson Benevides

Há pessoas que passam pela vida sem deixar marcas, e, quando partem desse mundo quase não são lembradas. Outras há que vivem tentando inovar, imprimindo sua presença e energia em tudo que fazem, e, quando partem para o outro lado, entram para a galeria dos inesquecíveis. O meu primo e cunhado, Wanderson Silva Benevides, o Bibí, como era conhecido, se enquadra nessas ultimas, pois volta e meia é relembrado, certamente por ter sido grande pessoa humana, e, principalmente, por suas qualidades pessoais. Ele era a irreverência em pessoa, claro, no bom sentido, seja na vida profissional, nos esportes, na pescaria, no velório, onde quer que fôsse, era sempre alegre e cordial com todos. Era, na verdade, um garotão gozador que não perdia oportunidade para tirar sarro em alguém, tudo na base da brincadeira. Se identificava bem com todos, da criança ao ancião. Foi soldado Paraquedista do Exército Brasileiro, servindo na cidade do Rio de Janeiro, onde residiu por vários anos. Em meados da década de 50 chega à Jataí, quando foi recebido de braços abertos pela sociedade jataiense, que , diga-se de passagem, era um pouco preconceituosa com relação à estranhos. Em Jataí, exerceu várias profissões, foi bedel do Colégio Nestório Ribeiro, foi proprietário de Academia de Judô, foi caminhoneiro, foi Segurança de banco, foi vendedor e representante do Laboratório Le Petit de São Paulo, foi treinador do Botafogo de Jataí, foi Preparador Físico da Jataiense, foi Show-Man com serviço de Auto-falante e, por ultimo, Radialista, exercendo suas atividades por longos anos na Rádio Difusora de Jataí, onde demonstrou sua inigualável competência e criatividade, que até hoje, passados muitos anos de seu falecimento, ainda continua sendo notícia.

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O Jornal, O Globo de Domingo, 09/03/2003 presta-lhe uma homenagem póstuma, através da pena do cronista esportivo, RENATO MAURÍCIO PRADO, na crônica, "QUE COPA !" Onde o referido jornalista a inicia fazendo comentários sobre a possibilidade que se abriu da Copa do Mundo de 2014 ser realizada no Brasil. Mais na frente, falando sempre de futebol, ele se refere ao Bibí e a cidade de Jataí da seguinte forma:

"Wanderson Benevides, o Bibí, era o principal narrador esportivo da Rádio Difusora de Jataí, no interior de Goiás. No final dos anos 60, o clássico da cidade entre Jataiense e Botafogo rolava eletrizante. Durante a transmissão, entra a vinheta do tempo de jogo e Bibí solta o seu conhecido vozeirão tonitruante:

O tempo não pára ! Decorridos, pelo meu cronômetroooooo... E Bibí vai espichando o terceiro "o" do cronômetro e os olhos pela cabine atrás do maldito relógio com o tempo do jogo. Nada. Sumiu ! Microfone ainda aberto, ele emenda, com ódio:

E quem foi o "fidumaégua" que surrupiou o meu cronômetroooo???

Na mesma época, jogavam na Jataiense, time do coração de Wanderson Bibí Benevides, os irmãos Gilson e Jailson. Mal comparando, eram como Pelé e Coutinho, tal a facilidade que tinham para tabelar. No eterno clássico contra o Botafogo, os irmãos iniciam uma troca de passes na direção da área e Bibí narra empolgado:

Lá vai Gilson, toca para Jailson, que devolve a Gilson. Gilson para Jailson, Jailson para Gilson...O lance chega à pequena área e nenhum dos irmãos define a jogada. Exasperado, Bibí coloca a cabeça para fora da acanhada cabine de rádio do estádio e grita a plenos pulmões, sem desligar o microfone:

Chuta, desnaturado!!!".